quinta-feira, 12 de maio de 2011


Nos dormentes da memória
Hélio Pólvora (foto de Augusto Mário Ferreira)Hélio Pólvora
Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia.

                                                     


Mau sonetista, Dom Pedro II foi um empreendedor de larga visão, um devoto do progresso. Tinha espírito cívico, ufanista, distanciado dos utilitaristas governantes e empreiteiros de hoje. Pretendeu integrar o Brasil por estradas de ferro, e destas deixou rico legado. Seu maior projeto foi a Central do Brasil, mais tarde Rede Ferroviária Federal, que partia da Corte no rumo de Belém , com vários ramais.
A imperial malha ferroviária, prova de que o nosso desenvolvimento vem de longe, foi reduzida ao pó de mico pelo lobby da industria automobilística e das empreiteiras construtoras atentas à insânia do progresso a toque de caixa. Privilegiou-se a rodovia de fretes mais caros. Ao popular trem de ferro sucedeu a carruagem individual – o automóvel símbolo de poder aquisitivo. Trocou-se o transporte de massa pelo transporte elitista.
Sobre os 150 anos da ferrovia Salvador-Juazeiro, de que restam os 13,5 quilômetros de Calçada a Paripe, este jornal estampou reportagem sobre a melancólica dissipação do cabedal ferroviário. “Saudosas ferrovias”, como bem disse. Além da ligação com o São Francisco e dos trilhos da Leste Brasileiro, a Bahia dispunha de várias linhas.
Cachoeira e São Felix eram os referenciais da Estrada de Ferro do Paraguaçú . Havia ainda Mapele-Buranhém, que privilegiava Candeias, e a Bahia-Minas, entre Caravelas e Araçui, no interior mineiro. A desativação gerou pobreza e canção de protesto de Milton Nascimento.
Estas ferrovias sequer resistiram como equipamentos turísticos. Viraram ferro-velho, os trens rodam nos dormentes da memória. Governantes desenvolvimentistas de muita fome eleitoral projetam o trem-bala São Paulo-Rio e a polemica ferrovia Oeste-Leste, do Tocantins a Ilhéus. Quando sairão do papel?
O sul cacaueiro também teve a sua ferrovia. Devia chegar a Conquista e juntar-se à Bahia-Minas. Ficou nas linhas até Itabuna (1910), Água Preta (atual Uruçuca, 1914) e Itajuipe (1934). 

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