sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Cronica de Walmir Rosário

 

DANIELZÃO, DUAS GERAÇÕES DEDICADAS AO FUTEBOL

Danielzão no Itabuna Esporte Clube

Por Walmir Rosário

Daniel Souza Neto, ou Danielzão, como era conhecido, não atuou nas 11, mas pode-se dizer que jogou nas duas posições mais visadas do futebol: goleiro e centroavante, além de ponta-direita. Nas duas, tinha objetivos completamente contraditórios – defender e fazer gols. Quem o conheceu atuando garante que desempenhou todas com competência, ou seja: conhecia do ofício de jogar bola.

Como amador, jogou nos dois Botafogos do bairro da Conceição – o de cores vermelha e branca, de Maninho, e no da camisa preta e branca com a estrela solitária –; o Grêmio, Bahia, Flamengo e Janízaros. No futebol profissional atuou no recém-formado time do Itabuna e no Leônico, de Salvador. Times amadores não era bem a expressão da verdade, já que de uma forma ou de outra, eram remunerados.

Em 1950, Danielzão – o goleiro – veio da Fazenda São José, no município de Ilhéus, para jogar no Botafogo vermelho e branco. Na verdade, ele não gostava de ficar parado embaixo dos “três paus” e sua vontade era correr lá na frente, trombar com os zagueiros e balançar a galera com os gols marcados. Em 1951 foi trabalhar em São Paulo, voltando para Itabuna no ano seguinte, 1952, disposto a mudar de posição.

E agora no outro Botafogo, dirigido por Rodrigo Antônio Figueiredo, o Rodrigo Bocão, e Sílvio Sepúlveda. Numa das partidas foi reconhecido por um torcedor – Ferrugem –, que o indicou a Sílvio Sepúlveda como um grande goleiro. Proposta feita e imediatamente recusada. Como Sílvio não desistia facilmente, fez uma nova proposta, desta vez acrescentada de Cr$ 100,00 (cem cruzeiros) por semana, e imediatamente aceita.

Do Botafogo mudou para o Grêmio, onde foi vice-campeão de 1955 e 1956, depois para o Bahia, ainda no gol, até voltar para o Botafogo, em 1960, como centroavante. Em 1964 se transferiu para o Leônico, como ponta-direita, e na estreia marcou dois dos quatro gols da vitória contra o Galícia. Em seguida recusa uma proposta do Bahia, com um grande salário, pois foi indicado a João Guimarães pelo amigo Fernando Barreto.

Convidado pelo CSA de Alagoas e pelo Sergipe, preferiu voltar a Itabuna, jogando pelo Flamengo. Convocado várias vezes para a Seleção de Itabuna, em 1967 foi para o Itabuna Esporte Clube, profissional, onde encerrou a carreira. Danielzão aponta as diferenças do futebol jogado antes e agora e diz que foram introduzidas muitas mudanças na forma de jogar, além do preparo físico, hoje científico.

Lembra Danielzão, que o primeiro técnico completo que conheceu foi Ivo Hoffmann, do Itabuna, nos fins dos anos 60. Ele diz que naquela época acordavam às 5 horas para fazer física e logo em seguida iam para o trabalho. Dentro de campo, pegavam a bola e olhavam para quem passar, e agora, quando se recebe uma bola, já têm três ou quatro marcadores em cima.

Para Danielzão, Itabuna sempre foi uma “fábrica” de craques, mas ele cita Léo Briglia, Santinho e Gerson Sodré como os maiores itabunenses que viu jogar. Ele credita a alguns dirigentes despreparados a escassez de jogadores formados em Itabuna, pois, sob o pretexto de armar um grande time, preferem trazê-los do Rio de Janeiro e São Paulo.

Na visão do centroavante, enquanto os atletas locais jogavam por amor à camisa, os de fora vinham apenas em busca do dinheiro. E cita como exemplo o início do Itabuna, quando existiam craques regionais como Ronaldo, Santinho, Bel, Déri, Fernando Riela, ele mesmo, e o time foi campeão do interior. Danielzão cita que quando o Itabuna tinha o melhor ataque, com Élcio, Santa Cruz e Milano, o time ganhava dos grandes, quando tudo ia bem, e perdia para os pequenos quando não tinha dinheiro.

Apesar de não ter ganhado dinheiro com o futebol, Danielzão ressalta que fez grandes amigos, e que poderia ter uma carreira bem-sucedida, pois tinha preparo físico para correr os 90 minutos, marcava os zagueiros e ainda fazia muitos gols. Aos que iniciavam, aconselhava cuidado com a saúde e resguardo na bebida, não fumar e não perder noite.

Uma família de craques

Como diz o ditado: “filho de peixe peixinho é”, os três filhos de Danielzão seguiram a mesma carreira do pai. Claro que não faltou incentivo, levando os filhos para o estádio, e um empurrãozinho na carreira. Todos eles aprenderam bem a lição, tanto que foram bem-sucedidos na vida profissional.

O primeiro deles foi Danielzinho, ponta-direita que iniciou a carreira no Itabuna Esporte Clube, de onde saiu para alçar novos voos no Bragantino, de São Paulo, e no Goiânia.

Roberto, o Beto, quarto zagueiro, foi o segundo a se profissionalizar – também pelo Itabuna – e ainda jogou no Bonsucesso e Friburguense, do Rio de Janeiro; Leônico e Atlético e Alagoinhas, na Bahia. Como técnico, atuou no Grapiúna. Itabuna, Colo-Colo, e coleciona títulos pelas seleções amadoras que treinou.

Guiovaldo, o Gui, ponta de lança e lateral, é o terceiro da família Souza Neto. Também passou pelo Ávila, de Portugal, Bonsucesso, Americano de Campos, Juventus de Minas, Grapiúna. Retornou ao Itabuna e o Colo-Colo, de Ilhéus.


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