Sino, “(…) esse relógio do passado que marca as horas do presente.”
Henriqueta Lisboa

Walmir Rosário
Neste domingo (3), antes da celebração da primeira missa do dia, era visível e manifestado o júbilo dos católicos paroquianos da Catedral de São José, em Itabuna. O contentamento estampado nos rostos tinha como consequência a volta do toque matinal do carrilhão do maior templo católico de Itabuna. Os mais ansiosos chegavam a cantarolar aquela música consagrada entre os cristãos: “Bate o sino pequenino/sino de Belém/ já nasceu o Deus Menino/para o nosso bem.”.
Os sinos da Catedral de São José ficaram mudos por algum tempo, obedecendo “ordens superiores”, o que criou um clima de insatisfação entre os católicos paroquianos da Catedral. O motivo seria a reclamação de perturbação pelo toque do sino por parte de uma moradora daquela redondeza, embora não exista nenhuma queixa por parte da vizinhança por cerca de 50 anos (relembre o caso).
Os sinos têm uma importância relevante entre as religiões (veja aqui). No livro Dicionários de Símbolos, de Herder Lexikon, (Editora Cultrix, 11ª edição, pg. 184) o sino é descrito como o “símbolo que faz a ligação entre o céu e a terra; é o chamado para a prece e lembra a obediência às leis divinas. Geralmente o som do sino simboliza (por exemplo, na China) a harmonia cósmica. No islamismo e no cristianismo, o som do sino significa a repercussão da onipotência divina, a ‘voz de Deus’, cuja percepção transporta a alma para além das fronteiras do mundo terreno. É muito difundida a concepção do seu poder protetor contra as desgraças”.
Foi através de John Donne, um dos maiores poetas de língua inglesa, que o escritor norte-americano Ernest Hemingway, encontrou inspiração para o título do seu romance “Por Quem os Sinos Dobram”, baseado no texto Meditação: “Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”.
A influência dos sinos é tamanha que no capítulo 13 de Coríntios, epístola que Paulo fala grandiosamente sobre o amor (em grego ágape) que, em algumas traduções, aparece com o vocábulo caridade: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. (…).
Ainda em Coríntios 1, capítulo 7, 31 e 32, o apóstolo Paulo diz: “E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa. E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.”.
Confesso que não possuo formação em teologia, mas nunca descuidei dos ensinamentos recebidos durante o tempo que permaneci nos seminários capuchinhos sobre a Bíblia e a religião como um todo, tendo como princípio fundamental os ensinamentos da Igreja. Ao que parece, querem retirar tudo que de melhor existe na religião católica, como os seus dogmas, metáforas, símbolos e alegorias, como sempre desejaram os protestantes.
E estranho muito quando a nossos religiosos de hoje – padres, bispos, etc., – não mais se preocupam com as coisas de Deus, desprezando os ensinamentos do Livro Sagrado, privilegiando as coisas terrenas. Ora, será que uma decisão errada do bispo diocesano precisa ser levada a efeito sem qualquer debate junto à comunidade paroquiana? Será que a Igreja adotou a máxima popular: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo?”. A expressão “vá se queixar ao bispo”, em Itabuna, vale mais do que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Falta a humildade, o reconhecimento do erro e a dignidade do arrependimento. Ainda mais quando um sacerdote utiliza o púlpito de sua Igreja com soberba, na tentativa de menosprezar a inteligência dos demais, principalmente seus paroquianos, verdadeiros sustentáculos do templo. Aproveitamento melhor teria no púlpito se tratasse – como deveria – dos ensinamentos do senhor. Errar é da condição humana, mas permanecer no erro é afastar-se do Deus Misericordioso.
Nessa condição, não se sabe mais o que deve ser dito, se: “Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem!” Ou, “Posso em tudo aquilo que me convém!”.
Jornalista, advogado e editor do www.ciadanoticia.com.br