quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


alhos & bugalhos - Especial

Nicolau Maquiavel - O Príncipe

* O Príncipe (no original, Il Principe) é um livro escrito por Nicolau Maquiavel em 1513, cuja primeira edição foi publicada postumamente em 1532. O Principe é livro fascinante, daqueles que uma vez iniciada a leitura, não se pode largar até o ponto final.
O nome de seu autor deu origem ao termo maquiavélicoque define um homem perverso, cínico, a serviço de tiranos. Como diz T.S.Eliot: nenhum grande homem foi tão completamente mal interpretado.
De um prefácio assinado por Raymond Aron: Que queria dizer Maquiavel? A quem queria dar aulas, aos reis ou aos povos? De que lado ele se colocava? Do lado dos tiranos ou dos republicanos? Ou de nenhum dos dois?

Capítulo XXII
DOS SECRETÁRIOS QUE OS PRÍNCIPES MANTÊM JUNTO DE SI
Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons ou não, de acordo com sua prudência. A primeira conjetura que se faz da inteligência de um senhor, resulta da observação dos homens que o cercam. Se estes forem competentes e fiéis, o príncipe sempre poderá ser reputado sábio porque soube reconhecê-los competentes e mantê-los fiéis.
Quando não são assim, sempre se pode fazer mau juízo do príncipe, porque cometeu seu primeiro erro na escolha.
Não houve ninguém que conhecesse messer Antônio de Venafro, ministro de Pandolfo Petrucci, príncipe de Siena, e não julgasse Pandolfo um homem de grande valor por tê-lo como ministro.
Há três tipos de inteligências: uma entende as coisas por si, outra discerne aquilo que os outros entendem e a terceira não entende nem a si nem aos outros. A primeira é excelentíssima, a segunda é excelente e a terceira, inútil.
Pandolfo, se não se classificava no primeiro grau, estava, necessariamente, no segundo. Porque, toda vez que alguém tem a capacidade de distinguir o bem do mal que outro faz e diz, ainda que por si mesmo não possa concebê-los, distingue as obras más e boas de um ministro, corrige aquelas e elogia estas, o ministro sabe que não poderá enganá-lo e se conserva bom.
Existe um modo perfeito pelo qual o príncipe pode conhecer um ministro. Quando vês que um ministro pensa mais em si do que em ti, e em todas as ações procura primeiro seu próprio benefício, pode concluir que este jamais será um bom ministro e nele nunca poderás confiar pois aquele que tem o estado do outro em suas mãos não deve jamais pensar em si mesmo, mas no príncipe, nem ocupá-lo com coisas que não lhe digam respeito.
Por outro lado, o príncipe, para conservar sua lealdade, deve pensar no ministro, concedendo-lhe honrarias e riquezas, obsequiando-o e compartilhando com ele as honras e funções.
Desse modo o ministro perceberá que não pode passar sem ele; as inúmeras honrarias o dispensarão de desejar mais outras honrarias; as muitas riquezas de desejar mais riquezas e as múltiplas atribuições o farão recear as mudanças.
Portanto, enquanto os ministros agirem assim em relação aos príncipes e estes em relação aos ministros, poderão ambos confiar um no outro; caso contrário sempre haverá um fim mau para um deles.

Nicolau Maquiavel nasceu em Florença em 3 de maio de 1469 e faleceu em sua cidade natal em 21 de junho de 1527. Está enterrado na Igreja de Santa Croce, Florença. Foi filósofo, escritor, dramaturgo, poeta. Há exatamente 500 anos, em 1513, escreveu este que é um dos livros “imortais”, segundo todos os pontos de vista. (mhrrs)

*detalhe retrato de Maquiavel por Santi di Tito, acervo Palazzo Vecchio, Florença

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