(Foto: Lourival Custódio/Arquivo CORREIO)
Queda de helicóptero matava Clériston
Andrade, candidato ao governo, há 40 anos
Acidente mudou rumos da política baiana; funeral levou mais de 150 mil
às ruas de Salvador
correio24horas - As avenidas Paralela e Garibaldi têm mais coisas em comum que o fato de
serem duas das mais importantes e movimentadas de Salvador. Elas possuem homenagens
a dois políticos muito populares com funerais que pararam as duas principais
capitais nordestinas, e que morreram em circunstâncias parecidas: acidentes
aéreos em plena campanha eleitoral.
O caso mais recente, e mais vivo na memória dos brasileiros, é o do
ex-governador pernambucano Eduardo Campos, vítima da queda de um avião, em
Santos, durante a corrida presidencial de 2014. Ele batiza um viaduto sobre a
Paralela, na altura do Imbuí. Sua morte levou milhares de admiradores às ruas
do Recife, em agosto daquele ano.
A outra perda trágica foi de Clériston Andrade, ocorrida em plena
campanha ao Governo da Bahia, em 1982. A queda do helicóptero que levava o
candidato e sua comitiva com mais políticos e assessores, completou 40 anos
essa semana, e parou Salvador. O funeral levou mais de 150 mil pessoas às ruas,
como mostra cobertura do Correio da Bahia sobre o fato que mudou os rumos da
política baiana.
Os 14 metros de altura da escultura que ocupa o centro da Garibaldi,
construída por Mario Cravo Júnior no ano seguinte, pode ser uma boa analogia à
popularidade do político e pastor da Igreja Batista, que pintava como favorito
à vitória nas urnas - o escolhido para o seu lugar, João Durval Carneiro,
faturou o pleito contra Roberto Santos e se tornou governador em março do ano
seguinte.
“A tragédia que enlutou a Bahia”, foi a manchete de 3 de outubro, em
Edição Extra já que, como agora, não saía jornal novo aos domingos. Na capa,
além da imagem dos destroços da aeronave e do resgate, chamadas para as
reportagens internas que davam conta da chegada do corpo do político e das
outras vítimas à capital, às 10h do mesmo dia. Além disso, o relato da comoção
em Itapetinga, região onde o acidente aconteceu, e o luto tanto do padrinho
político de Clériston, o então governador Antonio Carlos Magalhães, e do
presidente João Figueiredo, último do período militar.
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Foto:
Arquivo CORREIO |
A queda do helicóptero ocorreu na sexta-feira (1º) durante uma viagem de
campanha entre as cidades de Itapetinga e Vitória da Conquista, no sudoeste. As
perícias indicaram que a aeronave, em meio à neblina que cobria a região da
Serra do Marçal, se chocou contra uma formação rochosa, matando todos os
passageiros e tripulantes.
Ainda na capa da edição extra, convites do então prefeito, Renan
Baleeiro - Clériston também fora prefeito entre 1970 e 75 - e do governador
ACM, que listou as vítimas e detalhou o passo a passo do adeus.
“O Governador do Estado, interpretando o sentimento de pesar do povo
baiano em virtude do trágico acidente que vitimou os Senhores Doutor Clériston
Andrade, Deputados Federais Rogério Rego e Henrique Brito, Deputado Estadual
Naomar Alcântara, Doutores Luiz Calmon de Bittencourt Pinto de Almeida, Adauto
Pereira de Souza e Cesare Casali, Jornalista Fernando Morgado Presídio,
Fernando Barcelos e João Batista Mendes, participa que, após trasladados, os
corpos estarão em câmara ardente, para visitação pública, no Salão Nobre do
Palácio da Aclamação, de onde sairá em cortejo fúnebre, para o Cemitério do
Campo Santo, às 11 horas de amanhã, dia 4.”
O presidente Figueiredo, em telegrama a ACM, afirmou: “A melhor
homenagem que poderemos prestar à memória de Clériston Andrade e dos demais
correligionários falecidos será prosseguir, sem esmorecimento, em nossa
campanha para aperfeiçoar e consolidar a democracia no Brasil”.
Ele também enviou mensagens pessoais à viúva, Cecy Andrade, e ao próprio
governador. ACM, por sua vez, disse que perdeu um grande amigo, “e a Bahia um
grande governador”.
Entre os mais abalados com as perdas, agora já no Palácio de Ondina,
onde a imprensa se concentrava para saber detalhes da tragédia, estava o então
deputado Luís Eduardo Magalhães, que por pouco não entrou naquela aeronave.
“Luís Eduardo pranteava o desaparecimento de tantos companheiros, especialmente
do jornalista e candidato a deputado estadual Fernando Presídio, seu
inseparável companheiro de militância política”, cita um texto. Outro que não
embarcou de última hora foi o então presidente do Vitória, Paulo Magalhães, por
falta de vagas.
Cidades em luto
Em Itapetinga, onde o acidente ocorreu, as ruas ainda ostentavam cartazes
saudando a passagem de Clériston e sua comitiva, quando a má notícia chegou.
“No semblante do povo a tristeza estava estampada, como se querendo traduzir o
grande sentimento pela perda de tantos amigos. Era um sentimento de pungente
saudade e de extrema dor”, cita uma reportagem. As notícias do desaparecimento
da aeronave começaram a chegar por volta das 16h e, às 18h30 de sexta veio a
confirmação do choque contra a Serra de Muquiba, que tem 400 metros de altura.
“A confirmação foi dada pelo vaqueiro José de Simplício, que viu quando
o helicóptero bateu no pico da serra, seguido de um violento estrondo e do
clarão de fogo”. José ainda chegou a ir até a aeronave, buscar sobreviventes.
“Tive medo e quase recuei. Depois me decidi e fui em frente, e quando
cheguei lá ainda fui apagar as chamas”, contou,
ponderando já ter encontrado todos mortos.
Em Salvador, o aeroporto lotou no desembarque das vítimas. “Cenas
comoventes foram registradas quando da chegada dos corpos no Aeroporto Dois de
Julho, durante o trajeto e depois no Palácio da Aclamação. Ali, filas imensas
se formaram e milhares de baianos foram dar o seu último adeus a Clériston Andrade
e aos componentes de sua comitiva”, diz o texto de apoio à manchete do dia 4,
que trazia em letras garrafais: “Adeus, Clériston”. Na foto, ACM cumprimenta a
viúva, Cecy, sobre o caixão do amigo.
Os três tripulantes foram enterrados em São Paulo, de onde eram
naturais. Exceto o então vice-prefeito de Itapetinga, Fernando Barcelos, que
foi sepultado na própria cidade, as demais vítimas ficaram no Campo Santo, em
covas próximas. No dia do sepultamento, às 10h30, o comércio de Salvador fechou
as portas em respeito às vítimas e para que os funcionários pudessem acompanhar
a despedida. Na edição do dia 5, que teve como manchete “Mais de 150 mil
pessoas no adeus”, uma foto aérea mostra a região do Canela lotada, durante a
passagem do cortejo fúnebre me direção à Federação. “A cidade parou para o
sepultamento”, “o povo chorou nas ruas”, registrou o jornal no adeus ao
candidato.
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