Alhos & Bugalhos
Uma Justa homenagem do correioitajuipense.blogspot.com
Luto: Itajuípe perde Profª Ângela
EM 11 -
MARÇO - 2012
Neste último sábado a comunidade itajuipense amargou uma grande perda com o
falecimento de Profª Ângela Bezerra, uma cidadã fora de série, apaixonada pela
literatura, pelas artes e que teve uma grande contribuição para a educação e
cultura do nosso município. Profª Ângela era uma pessoa muito querida e
generosa: Cada conversa era uma verdadeira lição de vida.
O
Itajuípe Online resgatou uma entrevista feita por Aristéa Gonzaga e Léo da Capoeira que foi publicada no site do Grupo C.A.E.S. onde
a nossa querida professora aborda, dentre outras coisas, aspectos da cultura e
da literatura de Itajuípe. Confira abaixo:
“Uma
das grandes personalidades itajuipense, na área da educação e da cultura é a
nossa baluarte, a Prof. Ângela Bezerra, uma pessoa altamente participativa nas
causas do município e que deu uma grande contribuição na literatura. Foi
secretária de Educação e também de Cultura e ajudou a conservar e montar o
acervo do escritor Adonias Filho.
Assim
o Grupo C.A.E.S. convida a todos a conhecer um pouco da história dessa valorosa
pessoa.
ENTREVISTA
01
– Conte um pouco de sua história na infância e como se deu seu contato com a
educação?
Prof.
Ângela - Por
intermédio do 2° Bispo de Ilhéus, D. Eduardo Herberhold, ingressei, com 6 anos,
no Orfanato D. Eduardo, hoje Escola Santa Ângela e ali permaneci até 1953,
quando conclui o curso Normal, sendo diplomada em Magistério de 1° Grau e
Catequista.
Em
1950, por um erro no meu registro de nascimento, quando fui registrada por meu
pai com o nome de Eunice Ramos Pereira, fiquei um ano sem estudar. Quando
ingressei no orfanato era pagã. Ao ser batizada recebi o nome de Maria Ângela
em homenagem a Santa Ângela, padroeira das religiosas Ursulinas, que
construíram o Colégio nossa Senhora da Piedade, recebendo do Bispo o Palácio
Episcopal, para abrigar crianças órfãs carentes. O primeiro registro foi
invalidado, sendo feita outra certidão.
No
ano em que fiquei sem estudar e como era aluna competente, as religiosas
acharam que poderia assumir uma classe de terceira série.
Ao
colar grau, em 1953, no primeiro semestre de 1954, lecionei em classe do
Instituto Nossa Senhora da Piedade.
No
segundo semestre de 1954, fui designada como professora substituta do prof.
Adilson, para o povoado em Rio do Braço, pertencente a Ilhéus, na Escola Maria
Vitória, fazenda de Dr. Eduardo Catalão.
Em
1955, fiz concurso para o Magistério, sendo designada para Lage do Banco,
distrito de Itacaré, ali permanecendo até 1957.
Em
março de 1958 fui transferida para Itajuípe, a pedido de Dr. Montival Sousa
Lucas, a fim de lecionar no Ginásio 07 de Setembro.
02
– Fale-nos um pouco sobre sua história na Educação de Itajuípe.
Prof.
Ângela – Ao
ser transferida para Itajuípe, em 1958, passei a lecionar pela manhã na Escola
Maria Quitéria, à tarde, no ginásio 07 de Setembro, as disciplinas História e
Português e à noite no Colégio Comercial de Itajuípe, também as disciplinas
História e Português.
Casei-me
em janeiro de 1962 e tive quatro filhos: Eduardo Antônio, Cyremir, Paulo César
que faleceu em acidente, em 1996, com 28 anos e Carlos Augusto. Tenho oito
netos e dois bisnetos. Moro em Itajuípe a 53 anos. Em 1997, a Câmara Municipal
outorgou-me o título de Cidadã Itajuipense pelos serviços prestados em
educação, indicação do ex-aluno e vereador Augusto Machado, quando era
presidente da Câmara o vereador Antônio Fernando Patury
Em
fevereiro de 1962, a Secretaria da Educação designou-me Coordenadora do Ensino
Religioso, a pedido do pároco de Itajuípe Frei Agnelo Bonfim.
Por
determinação da Secretaria de Educação, as diretoras de Grupos Escolares não seriam
mais por indicação política e sim por eleição. Assim sendo, fui eleita para a
direção do Prédio do Colégio Comercial em 08 de novembro de 1963 e ali
permaneci até 1968, quando entrei em licença de gestante por três meses e mais
6 meses de licença-prêmio.
Em
1969, fui transferida para o Grupo Escolar sem designação e, por ofício
dirigido, à delegada escolar do município de Itajuípe, professora Josefa Santos
Raimundo, sugeri que enviasse à Secretaria da Educação o pedido para que o
grupo escolar se chamasse Grupo Escolar 02 de Julho. Ali permaneci até 1971,
quando fui contratada para exercer o cargo de Diretora da Escola Polivalente de
Itajuípe, em tempo integral, após ter freqüentado o curso do PREMEM (Programa
de Ensino Médio).
Era
a família Polivalente em que todos trabalhavam com amor, responsabilidade,
espírito de união, sabendo incutir nos alunos o amor ao estudo, à escola, à
cultura, ao conhecimento da história do município e ao exercício da cidadania.
Foi um trabalho eficiente, desenvolvido pelos professores que formavam uma
equipe competente, harmoniosa, em que todos eram amigos e elogiados pela
comunidade que tinham confiança em matricular seus filhos naquela escola. Eram
alunos não só de nossa cidade como também de Coaraci e Uruçuca, sendo
considerada naquela época, Escola Modelo.
03
– Qual a importância da Cultura para a sociedade, no seu ponto de vista?
Prof.
Ângela – Itajuípe
é um celeiro de Cultura. Haja vista os grandes escritores que aqui viveram. São
eles: Adonias Filho, Jorge Amado, Marcos Santa Rita, a poetisa espírita Maria
Dolores, etc. Na nossa cidade temos: José Marcos Luedy Oliveira, Vanderlito
Barbosa, e a entrevistada.
Como
artista plástico temos José Bernardino Santana e seus colaboradores, cujos
nomes não me ocorrem, bem como o pintor Maciel Barreto que, por duas vezes,
ganhou prêmios em São Paulo e no exterior.
Na
sede, nos distritos, povoados e bairros da periferia estão espalhados vários
artesãos que não deixam nada a desejar, nas cidades vizinhas.
Na
parte artística, temos o orgulho de possuir duas escolas de ballet: Anjos da
Dança e Tchu e Cia., bem como danças de salão.
No
esporte citamos a escolinha de Voleibol de Vanderlito Barbosa e a Capoeira de
Leandro Junquilho Cunha.
São
notórias as bandas de fanfarra, existentes na cidade e que já se notabilizaram
em apresentações em todo o Estado.
Como
vimos, a cultura na nossa sociedade é de vital importância e nos deixa
motivados para a mudança em todos os sentidos, o que nos impele ao
desenvolvimento.
04
– E sua passagem na Secretaria de Cultura de Itajuípe, como se deu?
Prof.
Ângela – Na
administração do Prefeito Carlos Alberto Guimarães Batista, fui escolhida para
exercer o cargo de Secretária de Cultura do município e a gerência ficou a
cargo da professora Jana. Foi nesta época que os filhos de Adonias ofereceram o
acervo de seu pai para o município.
Na
2ª administração de Mino foi designada como secretária a Professora Joanacy
Garcia Leite Pinto e coube a mim a gerência de Cultura.
Conseguimos
implantar a memória de Itajuípe através de um pequeno museu que auxiliou muito
aos alunos e pessoas ligadas à cultura, pois facilitou o conhecimento da vida e
obra de Adonias.
Também
nesta época foi criado o arquivo público. Procurando sempre servir ao município
como sempre o fiz; a escola propedeutica foi implantada no município.
Para
a preparação dos jovens vocacionados cujas aspirações eram servir a Cristo
através do sacerdócio, dediquei 8 anos de minha vida no ensino de português e
Redação bem como alguns professores, a pedido do Bispo diocesano.
No
colégio o lema das ursulinas é Sirvam “eu servirei”. Isto sempre o fiz em toda
a minha vida.
05
– Quando e como surgiu o gosto pela escrita? Como se deu a construção de suas
obras literárias?
Prof.
Ângela – No
convento onde morei no orfanato, estudando no pensionato, sempre era designada
para exercer o cargo de Secretária do Grêmio Estudantil por acharem que tinha
facilidade de expressão oral e escrita.
Na
sociedade e na carreira profissional, escrevi discursos; isto me fez gostar,
não só de ler para adquirir conhecimentos, como me serviu de base para
concorrer a concursos de poesias, contos, crônicas, na Litteris Editora,
concursos de poesia em Itabuna, Ibicaraí, Ipiaú, Maragojipe, bem como
concorrendo em Talentos da Maturidade do Banco Real e Santander, na categoria
Literatura, do segundo ao décimo segundo concursos, em 2010.
Em
cinco antologias de Grandes Escritores da Bahia, editadas pela Litteris
Editora, há trabalhos, textos e poesias de minha autoria, exemplares existentes
na Biblioteca Pública Municipal.
Quando
completei 70 anos de existência, minhas colegas me fizeram uma surpresa:
presentearam-me com uma Antologia Poética cujo título é Momento Mágico, em que
estão 50 poesias de minha autoria.
Minha
filha Cyremir, que reside há alguns anos na Suécia, patrocinou a segunda edição
da Antologia Poética Momento Mágico, com 70 poesias em homenagem aos meus 70
anos, em 2003.
06
– Quem são suas principais referências de Escritores?
Prof.
Ângela – Na
adolescência iniciei, lendo os livros de Júlio Verne. Ao chegar em Itajuípe,
comecei a ler a coleção dos livros de Jorge Amado, de Erico Veríssimo, de
Adonias Filho, de José de Alencar, de José Lins do Rêgo, de Euclides da Cunha,
de Graciliano Ramos, de Carlos Drummond de Andrade, Clarisse Lispector e tantos
outros, mormente dos escritores de Itajuípe.
07
– O que espera ver num futuro para o nosso município?
Prof.
Ângela – Num
futuro não muito distante, haveremos de ver os adolescentes mais estimulados em
ler, bem como nas escolas, as crianças tomando gosto pela leitura, incentivados
pelos seus professores. Isto os .fará adquirir conhecimentos que os impulsionem
a adquirir a valorização dos seus objetivos e metas para uma vida consciente
dos verdadeiros e imutáveis desejos de crescimento e felicidade.
Espero
que Itajuípe, no futuro, seja uma cidade progressista como já o foi, para a
felicidade de seus munícipes.
Encerro
essa entrevista com a poesia de minha autoria, cujo título é FELICIDADE.
É
o que mais se quer
A
vida inteira
No
dia a dia,
Em
todo o tempo.
Como
se engana
Quem
diz: Sou infeliz!
Não
é assim,
Você
é quem diz.
Felicidade
vem do íntimo,
Do
seu entusiasmo,
De
sua alegria
De
todo o seu ser.
Ao
acordar,
Ao
amanhecer
É
a maior emoção
Contemplar
a amplidão.
Ouvir
os pássaros,
A
gorjear.
Ser
você mesmo e
Saber
amar.
Pensar
nos outros
Exigir
de si
Porque
é um bem
Se
renovar
Para
melhorar.
Não
procure longe pois
A
felicidade existe
Bem
perto de si
E
no porvir.
É
uma alegria na vida profissional encontrar pessoas que ainda valorizam o
professor e dizem: “você foi minha mestra na escola primária, ou no Centro
Educacional Professor Diógenes Vinhaes, ou na Fundação Comercial de Itajuípe”.
Muitos, hoje, se destacam na sociedade como médicos, bancários, na política e
mesmo como cientista. Esta é a glória na vida dedicada do professor: ter
contribuído para o progresso de muitas pessoas de uma comunidade. Como São
Paulo, posso dizer: “Combati o bom combate, encerrei a minha carreira
profissional com dignidade.”
Por Hoje é só. Vou bater o martelo.
Ponto Final. (Redação o Bolso do Alfaiate)
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