Acorda Itajuipeeeeeeeeeeeeeeeeeeee - Vamos nos defender da crackolândia e das matérias negativas veiculadas na mídia a exemplo do Fantástico do último domingo
Reflitam os pensamentos e texto abaixo
DE MAIAKOVSKI A CLAUDIO HUMBERTO
Lucy Reichenbach
Tenho recebido mails, este último há menos de duas
horas, de um querido amigo português, contendo um alerta contra a indiferença e
onde são invocados primeiramente o grande poeta russo Maiakovski
(1893-1930), neste belo poema:
Na primeira noite, eles se
aproximam
e colhem uma flor de nosso
jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se
escondem,
pisam as flores, matam nosso
cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil
deles,
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Depois são lembradas as palavras de Bertold Brecht
(1898-1956):
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns
operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns
desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com
ninguém
Ninguém se importa comigo.
Por fim, Martin Niemöller anti-nazista que teria dito com outras
palavras algo igual por volta de 1933:
Um dia vieram e levaram
meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me
incomodei.
No dia seguinte, vieram e
levaram
Meu outro vizinho que era
comunista.
Como não sou comunista, não me
incomodei .
No terceiro dia vieram
e levaram meu vizinho
católico.
Como não sou católico, não me
incomodei.
No quarto dia, vieram e me
levaram;
já não havia mais ninguém para
reclamar...
Até chegar no meu diariamente lido Claudio Humberto em
2007:
Primeiro eles roubaram nos
sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus,
mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não
moro;
Fecharam então o portão da
favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a
morte uma criança, que não era meu filho...
Essa
preocupação me faz pensar que talvez haja uma saída para o ser humano e que
finalmente, pela dor, as pessoas começem a entender que sem luta não há
liberdade e sem liberdade não há direito!
O
conteúdo desses mails não trazem novidade1 e, tenho para mim,
que quem realmente plantou essa idéia, que tenho pregado ao longo de minha vida
profissional, foi o grande jurisconsulto Rudolf Von Ihering, nascido em 1868
numa pequena cidade alemã.
Destacou-se
pela aguda inteligência e foi um dos maiores juristas que o mundo conheceu. Em
“ A Luta pelo Direito”2 a sua pregação, em apertado
resumo, era a de que não importa se seu direito vale um centavo ou um milhão,
deve lutar por ele para que não só o seu direito se realize, mas para que ele
se afirme perante o meio social como algo a ser respeitado. Em outras palavras,
só o exercício do direito – portanto, a luta – o afirma e fortalece.
Pois
bem. Ihering já falava a mesma coisa, aplicada ao direito, muito antes de
Maiakovski ou Bertold Brecht. Isto porque é sendo infiel no pouco que acabamos
infiéis no muito. É sendo indiferentes nas pequenas coisas que somos vítimas de
grandes tragédias.
Se
deixamos que o outro entre em nossa vida e a manipule, hoje dando ordens ao
jardineiro, amanhã aos seus filhos, no momento imediato irá dirigir sua vida,
dizendo com quem deves falar, a quem deves ou não deves amar e até mesmo o que
deves fazer com os bens que tens. Enfim, um pouco de distração e já
não tens a tua liberdade!
Hoje
está em voga a impunidade para os tais delitos denominados de “bagatela”,
abrindo-se um flanco para o desrespeito à lei. Delito é delito, não há no
ilícito qualquer bagatela. Mais que um bem juridicamente tutelado, foi
desrespeitado um princípio, aquele que manda que cada um respeite as
coisas alheias.
A
frouxidão moral é como um elástico que o inimigo vai esticando, esticando, até
que ricocheteie na tua cara!
Aqui
em minha casa tivemos uma experiência parecida, fomos deixando que determinada
pessoa tomasse conta de nossas coisas e de nossas vidas e a tal ponto, que a
certa altura achou-se no direito de fazer escolhas em nosso lugar e chegou
mesmo a se indignar porque um determinado computador tinha senha. Como nos
atrevíamos a lhe obstar o acesso?
Pois é
exatamente assim que as coisas acontecem, o que antes era uma liberalidade
passa a ser uma exigência, o que antes era afável passa a ser abusado e
atrevido. Guardadas as proporções, o efeito dessa passividade é
igualmente devastador numa comunidade ou num país.
Por
isto, sempre defendi e continuarei a defender que o seu direito, valha ele um
centavo ou um milhão, deve ser exercido, defendido, desfraldado, porque da sua
afirmação depende a existência do respeito ao direito de todos!
A
indiferença, prima-irmã da passividade e da distração, é a causa, repito
de todas as grandes tragédias humanas, desde o stalinismo, nazismo,
racismo até a criminalidade carioca.
A
segurança pública no Brasil vem sendo tratada com essa mesma leviandade e
indiferença, seja subestimando a capacidade e a crueldade da marginalidade,
seja tratando o nosso exército como uma legião de genis3, que logo
após serem usadas são boas de cuspir.
Os
americanos, quando em guerra, além de fornecer todos os meios necessários até
enviam artistas para levantar o moral da tropa. Aqui no Brasil,
não. Nosso exército está no front levando pedradas pelas costas. Se
um policial matar um bandido num confronto é crucificado na imprensa e acusado
de executor. O Conselho de Direitos humanos visita a familia do malfeitor e
oferece advogado gratuito para acionar danos morais do Estado.
Quando
um policial morre não aparece ninguém. O front está esvaziando e a tropa
de moral baixa. O resultado está aí e pode ser tarde: o inimigo já bate à
nossa porta!
________________________
[1] “Quando a casa do vizinho pega fogo é a tua que começa a
arder”
[2] Der Kampf ums Recht
[3] Joga pedra da geni, joga bosta na geni.... de Chico
Buarque de Holanda: Geni e o Zepellin
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