sexta-feira, 29 de julho de 2022

Por Walmir Rosário/Canavieiars

 

GENTE DE ITABUNA É OUTRO NÍVEL, É GRAPIÚNA

Itabuna completa 112 anos de emancipada

Por Walmir Rosário

O grapiúna é um povo diferente! Baiano, sim, mas com suas especificidades, o seu jeito de ser! Um povo novo, que nestas terras do sul da Bahia começou a chegar no final do século 19. Não vieram em busca de riquezas, mas fizeram uma terra rica. Fugiam da seca e aqui encontraram água em abundância e trocaram a terra esturricada por um solo fértil para plantar os cultivos de subsistência. Foram além, formaram as roças de cacau.

Assim eram os sergipanos que trocaram seu torrão natal pelas terras inóspitas do sul da Bahia e aprenderam a conviver com outro tipo de dificuldade: a fechada Mata Atlântica, os bichos selvagens, os índios e as doenças insalubres. Quanto mais passavam por novas atribulações, mas crescia a vontade de vencer no novo eldorado, e para aqui trouxeram as famílias parentes e aderentes.

Em pouco tempo, todo o sacrifício foi sendo recompensado pela fartura de alimentos, pelos recursos auferidos com a venda das primeiras safras do cacau, que após colhido e seco era vendido a peso de ouro. Trabalhavam do nascer do sol ao aparecimento da lua, formando as cabrucas, plantando as semente de cacaueiros com a ponta do facão. E os resultados eram vistos a olhos nus e repassados aos povoamentos civilizados.

Como nos mostra a história, a força do trabalho gera dinheiro e novas oportunidades que atraem outros povos. E eles vieram de todas as partes do mundo, criando uma “torre de babel”, nas quais as linguagens se misturavam e todos se entendiam. Eram gente de terras distantes, os alemães e suíços em busca do cacau; os árabes – aqui chamados de sírio-libaneses, numa união que deu certo – vendendo de porta em porta.

Também vieram levas de oportunistas para disputar as fartas notas de quinhentos que diziam serem usadas para acender os charutos dos novos-ricos do cacau nas noitadas das recém inauguradas boates da próspera Tabocas, que gerava a magnífica Itabuna em seu ventre. Objeto de ficção e ideologia – ou não – a vila se tornou rica (perdoem o trocadilho) e recebia a todos com a mesma distinção.

E essa gentileza permanece nos dias de hoje, oferecendo mimos e oportunidades aos que aqui chegam, como se fossem nossos velhos e grandes amigos. Nem sempre dá certo, é verdade, mas, na maioria das vezes, o acolhimento resulta em mais um para a confraria. E essa diversidade de raças e credos ultrapassou a nascente Taboca, a grandiosa Itabuna e criou a gente Grapiúna, alcançando o status de nação.

Chegou o Estado para regular as atividades, cobrar os impostos e nem sempre retribuídos em custeio e investimento das riquezas que tomou. Em pleno crescimento, os novos-ricos precisavam satisfazer suas necessidades, a classe média e os mais carentes do serviço básicos. Sem representação política, o imposto do cacau era devorado na capital e outras regiões pela elite econômica e política, sem a menor cerimônia.

Elevados ao posto de Coronel da Guarda Nacional ou simplesmente por suas posses, os grandes comerciantes e cacauicultores contribuíam com seus próprios recursos para melhorar e desenvolver a cidade. Nos conta a história de reuniões noturnas nas casas de alguns deles, na qual decidiam qual rua calçar ou ampliar a iluminação elétrica, dividindo o custo da obra entre eles.

Mas nem tudo era bonança nesta terra grapiúna. O Estado não fazia garantir a segurança dos munícipes e eram comuns as invasões de terras, geralmente as mais férteis e plantadas com cacau e as desavenças entre os citadinos. E os culpados se abrigavam nos fartos guarda-chuvas dos líderes políticos, aos quais nem sempre eram alvos dos rigores da lei, pelo contrário, muito bem apegados aos benefícios dela.

Mas o itabunense não se abate com miséria pouca, acostumado que está com os reveses desagradáveis sofridos, seja pela ação humana ou desastres naturais, e sabe como dar a volta por cima num pequeno espaço de tempo. Se o rio Cachoeira inunda, seu povo vê essa catástrofe como uma oportunidade de ajudar os desabrigados e reconstruir as áreas fortemente atingidas quantas as vezes for necessária.

Se a economia chega ao fundo do poço, vai em busca de novos parceiros, refunda o comércio, a indústria, os serviços e faz os recursos financeiros circularem com normalidade. Se o político não cumpre o que prometeu, sem cerimônia coloca-o na “geladeira” per omnia saecula saeculorum. Tanto é assim que em 28 de Julho de 1910 Itabuna separa-se de Ilhéus, sem perder a amizade, e vive feliz por 112 anos.

E faz tudo isso sem perder a embocadura, comemorando seus feitos nos muitos botecos da cidade. É vida que se segue. Portanto, se você conhece uma gente com esse perfil, pode botar fé, é grapiúna, com certeza!

segunda-feira, 25 de julho de 2022

 

OS FESTEJADOS 60 ANOS DO ABC DA NOITE


Cláudio da Luz disputa selfie com o Caboclo Alencar

Por Walmir Rosário

Neste sábado (23) os tradicionais frequentadores do Beco do Fuxico, em Itabuna, deram o ar da graça para comemorar uma data superimportante: os 60 anos bem bebidos do ABC da Noite. Antes que tentem me corrigir, vou logo avisando que a data correta do niver, como querem nossos colunistas sociais, é 28 de julho, data em que também comemoramos o dia da cidade de Itabuna.

A festa por antecipação não teve nenhuma interferência do ex-prefeito Fernando Gomes, criador do carnaval antecipado, e sim comemorar a data num sábado, dia em que os alunos do Caboclo Alencar mais assistem as aulas etílicas. Por atacado, todos aproveitaram para matar a saudade de Alencar Pereira da Silveira – o “Caboco”, que goza de perfeita saúde e continua em plena atividade aos 91 anos bem vividos.

No início da semana recebi – via whatsapp – um convite do colega radialista Gílson Alves para participar da efeméride, declinando da possibilidade de comparecer ao evento, nomeando-o, com Cláudio da Luz, meus mais legítimos representantes. Pelas fotos e vídeos disponíveis na internet, tive a possibilidade de rever “alunos” notáveis do ABC da Noite, a exemplo do advogado Gabriel Nunes, ajudando no balcão.

Pois é, os tempos são outros e depois da comemoração dos 60 anos, o ABC da Noite volta a trancar suas portas por data indeterminada, até que os perigosos vírus desapareçam por completo do Beco do Fuxico. Em que pese a fortaleza do Caboclo Alencar do alto dos seus 91 anos, por motivos de segurança nacional, faz sentido mantê-lo longe do perigo de uma infecção, por motivos óbvios.

Mas não pensem os senhores clientes do ABC da Noite que o Caboclo Alencar – madeira de dar em doido – como diz o advogado e dos primeiros frequentadores, Pedro Carlos Nunes de Almeida (Pepê), se recolheu em casa. Nada disso, é visto cortando as ruas de Itabuna de norte ao sul e de leste a oeste, muitas vezes caminhando, fazendo compras de insumos para fabricar as poderosas batidas.

Isso mesmo! Meu amigo Antônio Augusto Careca nunca ficou um só dia sem se servir das famosas batidas de cachaça ou vodca com pitanga, maracujá, limão, gengibre e outras frutas da estação. Previdente, guarda um estoque de pelo menos 10 litros na geladeira, para o seu consumo ou dos convidados. Dia desses eu mesmo fui agraciado com um litro da mais legítima batida de pitanga, trazido por ele e entregue aqui em Canavieiras.

Não seria justo que o Caboclo Alencar abandonasse sua clientela, deixando-a ao Deus dará, por causa de uma pandemia vinda lá da China ou lugar que a valha. Pelo contrário, manteve a linha de produção em funcionamento, agora dentro de sua residência, vendendo-as “em grosso” – ou por atacado, como queiram – entregues na porta de sua residência. Isso sim que é respeito ao cliente.

Neste sábado que agora se passou, aproveitei para rever, virtualmente, amigos de tantos anos da escolinha do ABC da Noite, muitos repetentes históricos, outros já diplomados e até os que requereram matrícula. Pedirei a Roberta Oliveira – que prestou adjutório ao Caboclo Alencar e dona Neuza – a relação dos alunos, para questionar os faltosos, como Daniel Thame, que não deu o ar da graça nas fotos e vídeos que vi.

A abertura – mesmo por um dia e fora do horário – do ABC da Noite foi uma benção para os veículos de imprensa recontarem no dia da cidade – 28 de julho – a história do Beco do Fuxico, com todos os pormenores. E não é pra menos! Mesmo sem recorrer ao último recenseamento do IBGE, acredito que estamos nos referindo ao estabelecimento etílico mais antigo de Itabuna e nas mãos de um único comando.

E não é à toa que o Caboclo Alencar pilota o ABC da Noite há 60 anos com a mesma verve e satisfação, desde que o cliente não cuspa no chão (desculpe a rima), ou cometa outro desatino impróprio ao recinto. Atesto sua humildade ao abdicar do posto de Rei do Beco do Fuxico, por ocasião da primeira Lavagem do Beco, honraria cedida ao cliente Cambão, que também atende por José Emanuel de Aquino.

E foi a partir da ideia do engenheiro soteropolitano Roberto Carlos Godygrover Bezerra (Malaca), Aberlado Brandão Moreira (Bel), dentre outros, em realizar a Lavagem do Beco do Fuxico, que o Beco passou a se dar ao luxo de abrir o Carnaval de Itabuna. Neste sábado também senti a falta do Bloco Casados I...Responsáveis e do Maria Rosa, para completarmos a homenagem aos 60 anos ABC da Noite.

Daqui do bar Mac Vita, em Canavieiras, onde estávamos, a Confraria d’O Berimbau e o Clube dos Rolas Cansadas aprovaram uma Moção de Aplauso para o ABC da Noite e ao seu piloto Caboclo Alencar, já que ausentes nada mais poderíamos fazer. Portanto, vida longa ao ABC da Noite e Caboclo Alencar, para que não nunca faltem as preciosas batidas e a união dos seus clientes.

 

ITABUNA JAMAIS ESQUECERÁ FERNANDO GOMES

Itabuna se despede de Fernando Gomes 

Por Walmir Rosário

Amados por muitos, odiado por alguns, assim era o político Fernando Gomes. Em toda sua história acumulou um cabedal político invejável, se elegendo prefeito de Itabuna por cinco vezes, deputado federal por duas vezes, uma delas o mais votado. Neste domingo (24), em que nos deixou, li numa postagem da História de Itabuna: “Todo o itabunense já foi fernandista pelo menos uma vez na vida”. Concordo plenamente!

Político altivo, Fernando Gomes sabia como ninguém conquistar seus eleitores, pelo jeito simples e sincero de tratá-los como se fossem amigos de infância, apesar de conhecê-los recentemente. Entrava nas casas e só parava na cozinha, após destampar as panelas, comer um tira-gosto, perguntar pelo cafezinho e sentar-se no sofá para trocar uns dois dedos de prosa. Muitos o criticavam chamando-o de populista, oportunista, aproveitador.

O bom mesmo era o resultado nas urnas, elevando Fernando Gomes um fenômeno político. Destemido, nos comícios encarava os adversários políticos, chamando-os para a briga, até mesmo com armas, se necessário. Nunca precisou chegar às vias de fato, limitando-se ao bate-boca através do microfone, como fazia com o todo-poderoso Antônio Carlos Magalhães.

Prefeito de Itabuna, sempre era convidado por Calixtinho Midlej para jantar com Antônio Carlos Magalhães, de forma civilizada, quando o assunto a ser tratado era o desenvolvimento de sua cidade. Um exemplo foi a vinda da Nestlé quando ainda secretário da Administração do prefeito José Oduque, inaugurada na gestão Fernando Gomes como prefeito.

Mas qual foi a escola política do menino nascido em Itamirim – hoje Firmino Alves – outrora município de Itabuna? O velho Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), acompanhando seu irmão, o ex-deputado estadual Daniel Gomes. Àquela época o PTB era chefiado pelo deputado Aziz Maron, que foi líder do governo Getúlio Vargas na Câmara dos Deputados, portanto, político graduado e de muitas regalias.

E o próprio Fernando Gomes foi beneficiário da experiência e poder de Aziz Maron, que o indicou para cargo na Estrada de Ferro Ilhéus-Conquista e, posteriormente para o Instituto de Pensão e Aposentadoria dos Comerciários (IAPC). Pessoa capaz de fazer novos amigos, Fernando vai trabalhar por conta própria, agora na comercialização de gado em toda a região.

Com a reorganização partidária, se muda com o irmão Daniel para o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e se torna o braço-direito do prefeito José Oduque, que o indica como sucessor. Daí pra frente passou a caminhar com passos largos, deu continuidade à modernização de Itabuna, asfaltando a cidade, construindo obras importantes como escolas, ginásio de esportes e outros equipamentos urbanos.

Já na primeira campanha como candidato a prefeito, Fernando Gomes sofreu todo o tipo de difamação, na qual os adversários tentavam apresentá-lo como um homem que sequer sabia falar e sem competência para o cargo. Ouvindo o professor Flávio Simões, deu o troco aos adversários usando como marketing o apelido de Fernando Cuma, aproximando-o ainda mais das pessoas mais carentes.

Técnico em contabilidade e acadêmico em direito, deixou a faculdade para cuidar melhor dos interesses de Itabuna, como gostava de explicar sua saída da Fespi. Conhecia como ninguém o orçamento do município e as prioridades do investimento e custeio, tinha na memória todos os números, sem a necessidade de recorrer a fichas e computadores, o que deixava seus colaboradores assustados nas reuniões.

Por ser amado e odiado, era o político mais discutido de Itabuna e região, muitas das vezes mal interpretado pelo tom de voz alto e frases ininteligíveis, o que dava munição aos adversários. Como bom político que era, não guardava mágoas e tratava a oposição simplesmente como adversária, nunca como inimiga, tanto assim que fazia acordos com o centro, a direita e a esquerda, cumprindo-os, todos.

Em sua penúltima administração, resolveu, de uma tacada só, eliminar mais de mil cargos de confiança da estrutura do município, o que não foi bem recebido pelos eternos seguidores. Em seguida, promoveu um concurso público para diversos cargos, agora criticado pela oposição, de que seria um simples conchavo para colocar os amigos na prefeitura. Um grande engano. Como primeira medida indeferiu a participação de um secretário no concurso.

O político Fernando Gomes nunca ficou em “cima do muro” nas questões sobre Itabuna, às vezes aumentando a tensão em algumas temas. Na sua penúltima administração resolveu organizar a cidade, devolvendo as praças públicas ao povo, retirando ambulantes de todos os tipos e até moradores. Não se importou com as ferrenhas críticas e foi elogiado ao concluir as obras. O mesmo aconteceu no Centro Comercial.

Em 1992 deixou os petistas atônitos, assim que seu candidato, José Oduque, perdeu a eleição para Geraldo Simões. Enquanto eles reclamavam que recorreriam à justiça para conhecer as contas do município, no dia seguinte Fernando publica decreto formalizando a transição (a primeira democrática de Itabuna), colocando secretários e documentos à disposição do futuro governo.

Como deputado federal remou contra a maré, mexendo com os poderosos ao propor a criação do Estado de Santa Cruz, dividindo a Bahia em dois estados. Sofreu uma grande campanha contra nos meios de comunicação, mas não se abateu. A cada final de gestão prometia se aposentar, cuidar de suas fazendas, mas sempre voltava à prefeitura revelando que tinha sido chamado pelo povo.

O mesmo povo que agora o reverencia na sua partida. Morto, sim, mas sempre lembrado!


sexta-feira, 22 de julho de 2022

O ITABUNA DE 1970, UMA LIÇÃO DE COMO VENCER A CRISE

O campo da Desportiva era o palco do Itabuna

Por Walmir Rosário

Até hoje o Itabuna Esporte Clube de 1970 é lembrando como um símbolo da prática do bom futebol, embora muitos torcedores não se lembrem da história – real – do campeonato baiano daquele ano. E esta crônica tem o dever moral de ampliar junto aos torcedores – daquela época ou os mais novos – o conhecimento dos bastidores do futebol baiano, como um todo, e do Itabuna, em particular.

Na crônica “Gabriel Nunes, o comandante do Itabuna de 1970”, fui questionado sobre os grandes times do Itabuna e muitos torcedores ligam a grande equipe formada em 1969, um verdadeiro timaço que foi desfeito com a renúncia da diretoria no começo de 1970. De repente, a fonte secou para o Azulão, o Meu Time de Fé. As torneiras que despejavam recursos vindos de cacauicultores e pecuaristas foram fechadas abruptamente.

Se puxarmos pela memória, conseguiremos lembrar que o futebol profissional baiano do interior sempre foi marcado por crises. Sem planejamento, os rios de dinheiro despejados pelos benfeitores para a contratação de jogadores do eixo Rio-São Paulo secavam com a falta de vitórias nos campeonatos. Se tínhamos uma torcida fanática e fiel, nos faltavam a continuidade administrativa, a boa gestão.

Em 1969, um grupo de produtores rurais montou um timaço, desfeito assim que o resultado pretendido não foi alcançado. Almejavam a conquista do campeonato baiano, que não veio. Mas como seria uma desmoralização para a cidade o Itabuna Esporte Clube sair do profissionalismo, pessoas influentes e o Conselho Deliberativo se reuniram em assembleia na Cooperativa Mista dos Fazendeiros para decidir os novos rumos.

Após muitos discursos, “a bomba cai no colo” do advogado Gabriel Nunes, com o respaldo de Gérson Souza (de reconhecida habilidade no trato com instituições sociais) e outra dúzia de abnegados. Era ano de Copa do Mundo, quando todo o Brasil estava de olho em Guadalajara, no México, torcendo pelo tricampeonato da seleção de Saldanha, transferida posteriormente para o técnico Zagalo.

O Itabuna Esporte Clube, a bem da verdade, em relação ao ano anterior, era um time desfigurado. Juntou-se aos poucos remanescentes de 1969 alguns amadores e partiram para a disputa do primeiro turno. No primeiro jogo, em Vitória da Conquista, de cara, perdemos pelo placar de 2X0, numa partida em que o goleiro titular, Betinho, foi substituído pelo grande Luiz Carlos e foi jogar no ataque.

Inicialmente, se a crise prejudicou o Itabuna, em seguida o ajudou bastante, com a saída do trio ilheense – Colo-Colo, Flamengo e Vitória – que se despedirem do Campeonato Baiano e muitos dos jogadores vieram reforçar o Azulão. E por aqui chegaram Americano, grande meio-campo; Chuvisco, um cabeça de área duro; Carlão, bom centroavante; Ronaldo, excelente ponta de lança e que acabou sendo uma das grandes revelações.

E a competência e liderança de Gabriel Nunes dentro e fora de campo se mostrou eficiente e eficaz na união de cartolas e jogadores, que abriram mão de salários e bichos para receberem 70% da renda dos jogos. Se em 1969 grassavam recursos financeiros, em 1970 sobravam criatividade, transparência, lealdade e amizade, consolidando a união entre diretoria e jogadores. E assim foram campeões do segundo turno.

Um notável exemplo dessa união foi um acordo feito pela diretoria com os jogadores – na maior parte solteiros ou com a família em outras cidades – sobre o comportamento. Como eles moravam na Casa do Atleta, no São Caetano, combinaram que os jogadores poderiam ter seu lazer da ponte para o bairro, inclusive nas farras. Já os dirigentes, fariam suas festas somente do lado do centro. E assim conviveram bem.

O advogado Geraldo Borges, que à época era narrador esportivo vivenciou essa história pessoalmente e condena a “armação” do Bahia e da Federação Bahiana para prejudicar o Itabuna. Para ele, enquanto o Bahia foi disputar o campeonato brasileiro com os melhores do País, o Itabuna para não ficar parado ficou por aqui jogando com os piores do Brasil, os que apareciam do futebol amador. E deu no que deu.

Na opinião de Geraldo Borges, o Bahia é um dos grandes times do país. Afinal, bicampeão brasileiro, continua padecendo dos costumes impostos por antigos dirigentes que tudo faziam pra ganhar. Não importava os meios, nem ter um bom time – mas ganhar ainda que pudesse repetir 1970. E essa lógica do futebol baiano fez desaparecer alguns times da capital e do interior.

E Geraldo diz que no dia que os dirigentes do Bahia perderem o que Nélson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata, aí sim, nós teremos um time que não precisa disputar o brasileirão com a calculadora na mão, naquilo que se convencionou como o “matematicamente possível. Com 25 anos como narrador esportivo, acompanhando o futebol amador e profissional do nosso estado, é o que pensa Geraldo Borges.

E para finalizar, conto duas preciosidades do 1970: num dos jogos o jogador Neném, que atuava na defesa e ataque, teve que sentar no banco uniformizado de goleiro, pois o reserva Galalau estava machucado. Em outra partida, nas finais do campo da Graça, o roupeiro José Rodrigues, de cerca de 60 anos, foi para o banco, já que o Itabuna não contava com o número de jogadores suficiente conforme exigia o regulamento.

Em campo, o Itabuna de 1970 era um vencedor; fora dele, só Nélson Rodrigues para explicar o comportamento dos cartolas soteropolitanos. 

terça-feira, 19 de julho de 2022

Direto de Canavieiras - OS VELHINHOS ASSANHADOS ESTÃO DE VOLTA

 

OS VELHINHOS ASSANHADOS ESTÃO DE VOLTA

Em 2017 o Grupo RM é recebido em O Berimbau

Finalmente! Agora, sim, comecei a levar fé que o mundo está voltando a ser o mundo de antes, modificado que foi nestes tempos em que a tal da Covid-19 esfacelou tudo de bom que existia neste Brasil de meu Deus e por aí afora. Uma simples convocação feita pelo whatsapp foi prontamente atendida por boa parte dos membros da Confraria d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas.

É certo que não se tratava de uma simples reunião, mas da comemoração do confrade Antônio Alves (que também atende como Tonhão ou Tonhe Elefoa), o que envolve um substancial prato da mais forte culinária. E desta vez foi servido um lauto mocofato, prato de sustança para os que se reúnem para tratar de coisas bastantes sérias numa mesa de bar, sem horário para o fim do encontro.

Como sempre alguns recalcitrantes teimaram em não aparecer, dando como escusas compromissos assumidos anteriormente, hoje em dia uma desculpa indelicada e não levada a sério. Entre os faltosos, o Almirante Nélson, que amarelou, seguido por Valdemar Broxinha, que agora somente comparece aos encontros caso tenha sido anunciado pelo comunicador Mário Tito pelas ondas da Rádio Sociedade da Bahia e mais uns três.

O aniversário – com os tradicionais parabéns pra você –, na verdade, era apenas um pretexto motivador para a presença dos confrades. Dois temas da maior relevância constavam da pauta: o retorno das reuniões semanais às quintas-feiras (Clube dos Rolas Cansadas), de forma itinerante, e aos sábados, no bar Mac Vita, ambiente aberto e ventilado, longe dos perigos dos vírus que circulam por aí.

A decisão foi validada pelos confrades presentes


Mas nem tudo seguiu conforme o planejado, haja vista o comportamento desajustado dos velhinhos após a ingestão de alguns copos de cerveja, tratando de alguns temas extrapauta. A começar pela data do aniversário, que seria no dia 4 de julho, transferido para o dia 5 por Tonhão, por conta da coincidência da independência americana, ficando longe do capitalismo do Tio Sam.

Já a segunda discussão animou os confrades, pelo pagamento de uma dívida. Calma, eu explico. É que no dia 24 de março de 2018, o conceituado Grupo RM, como se intitula (embora maldosos digam que representa Rolas Murchas) veio a Canavieiras exclusivamente para se encontrar com as coirmãs e estabelecer laços de amizade e troca de informações institucionais.

Em Canavieiras, a representação de alto nível, capitaneada pelo presidente Cal e os membros Zé Leite, o saudoso Gileno Alves, Coronel Jamil e Zé Nílton, isso em veículo próprio conduzidos pelo motorista abstêmio Paulo Taquari. Por aqui fizeram uma tournée pelo centro histórico, praia, Igreja de São Boaventura, Bar Laranjeiras, finalizando na Confraria d’O Berimbau.

Recebidos pelos confrades das duas instituições líteras, etílicas e mundanas, trocaram juras de amizade e juraram solenemente manter contatos recíprocos entre as duas sedes: Ilhéus e Canavieiras. Na sede d’O Berimbau a conversa rolou solta até quase o fim da tarde e sessão de fotos, devidamente acompanhadas das melhores cachaças, cerveja bem gelada e comida de sustança.

Como disse que existe a dívida, conto também os motivos que até hoje o motivo da inadimplência, o que tem deixado alguns confrades avexados. E todas as culpas recaem no planejamento (ou falta dele) da viagem a Ilhéus, por conta de Tyrone Perrucho e Demostinho. Os 110 quilômetros que separam as duas cidades não recomendam viagem dirigindo os próprios carros, por questões de absoluta segurança.

A solução foi contratar uma van ou micro-ônibus para a viagem. Aí foi que apareceram os insolúveis problemas: As vans de sete lugares não comportavam os poucos confrades, já os micro-ônibus eram grande demais para fazer a viagem com tão poucos passageiros. Até nos dispusemos a avaliar a proposta do confrade Tedesco, de que nos deslocássemos a Ilhéus de num barco de pesca, ideia abortada pelos frágeis estômagos dos confrades.

Sem encontrar solução, não conseguimos aportar na Barrakitika, sede dos encontros de sábado do Grupo RM. Para que não seja considerada incompetência, já recorremos ao adjutório do Secretário Plenipotenciário d’O Berimbau, Gilbertão, que virá de Santa Cruz Cabrália para definir o compromisso de tal monta. A viagem urge e pelo emocional dos confrades, desse ano não passa.

Numa análise aprofundada, o retorno das duas instituições líteras, etílicas e mundanas foi por demais proveitoso, com a aprovação da filiação do debutante Miron à Confraria d’O Berimbau, enquanto aguarda a decisão do Clube dos Rolas Murchas. A próxima assembleia promete assanhar os velhinhos.


terça-feira, 12 de julho de 2022

Cronica de Walmir Rosário, direto de Canavieiras

 

ACABARAM A LAVAGEM, VALHA-ME SÃO BOAVENTURA

Políticos ocupam a escadaria que não foi lavada

Por Walmir Rosário

Só Deus nessa causa para que tudo volte à normalidade! Estou falando do cortejo que sai da praça Maçônica todo o último domingo antes do dia 14 de julho, data dedicada a São Boaventura. Assim que chegam à praça São Boaventura, um grupo de baianas estilizadas lavam as escadarias da igreja matriz e, por extensão, os políticos, turistas e fiéis que participam do evento profano.

A cada ano a tradição é ultrajada, e neste ano da graça de 2022 o esculacho foi geral, com o fim da lavagem da escadaria da igreja, embora as baianas carregassem, durante todo o cortejo, cântaros e pequenos vasos com a água de cheiro destinada à limpeza. Pelo menos já sabemos que não foi falta de água, para que não se culpe a Embasa ou rio Pardo pela escassez do precioso líquido.

Pouco importa a tradição, definhada ao longo dos anos e ao sabor dos políticos. Sim, porque a festa é coordenada pelo prefeito desde que iniciou lá pelo ano 1978 – século passado –, criada pelo prefeito da época, Almir Melo. Coordenada por Trajano Barbosa, era realizada nos mínimos detalhes, inclusive com a lavagem do interior da igreja, suprimida anos depois, mantendo a tradição apenas na área externa.

A quebra da tradição também é verificada quanto cortejo, que sempre contou com peças e alegorias sobre a vida do Santo. À frente, o mandatário e seus representantes políticos nas diversas instituições do legislativo, seguido por grupos de diferentes ideologias, cada qual coeso no seu bloco, como manda a democracia. Os políticos, é bom que se diga, sempre se revezavam, conforme o mandatário municipal.

Em 2020, com a pandemia da Covid-19, poucos se incomodaram com a tradição e a fé no santo padroeiro São Boaventura. Por pouco passaria em branco, não fosse o fervor dos vizinhos da igreja, capitaneados por Antônio Tolentino, sua filha Fafá, e mais dois ou três vizinhos. Só e somente só, essa meia dúzia de fervorosos chegaram com latas d’água, mangueiras e vassouras para cumprir a devoção.

E o ex-bancário e ex-secretário Antônio Amorim Tolentino (Tolé), se queixa até hoje das mudanças feitas pela direção da Igreja Católica, em Salvador, em relação aos festejos profanos da lavagem da Igreja do Bonfim, que se refletiu também Canavieiras. “Apesar disso, não conseguiram diminuiu a devoção e o brilho da festa”, opina. Mas esse não foi o primeiro gol contra São Boaventura.

Os católicos mais tradicionais também se queixam da mudança da data em que São Boaventura era comemorado. Antes festejado no dia 15, foi retroagido para o dia 14 de julho, simplesmente porque o vigário da época pretendia participar da festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da vizinha cidade de Belmonte. Essa transferência criou uma polêmica na comunidade católica, resolvida posteriormente com um armistício.

E Tolé era um dos inconformados com a quebra das tradições, tanto que junto com o jornalista Tyrone Perrucho, Raimundo Tedesco e outros fiéis desocupados organizavam a comemoração no dia 15, em frente a igreja. Durante todo o dia espocavam fogos, bebiam, comiam e debatiam a vida do Seráfico Doutor da Igreja Católica até o sol se pôr ou a bebida acabar.

Conversava eu com uns amigos durante a passagem do cortejo sobre a mudança dos convidados dos mandatários municipais. Eu simplesmente não conseguia entender o motivo. Foi quando um professor que nos assistia teve a gentileza em nos explicar que seria devido à teoria da satisfação das necessidades. Se os primeiros convidados já satisfizeram as reivindicações anteriores, nada como os novos para as seguintes.

E o professor ainda teve a gentiliza de anotar o nome de um cientista social, um tal de Maslow, que explicava direitinho que a cada necessidade satisfeita imediatamente surgiria uma nova, que também deveria ser satisfeita, até completar a pirâmide. Como não conheço bem dessas artes, acreditava piamente que eram traições políticas, no que fui repreendido por não ter estudado o suficiente.

Estou bastante receoso com o cortejo de São Boaventura no ano que vem, pois posso ser surpreendido com a falta de outro elemento importante do importante festejo, além da lavagem da escadaria, já consumada. Conta a história, que por essas e outras heresias, a imagem de São Boaventura teria sumido da igreja matriz de Canavieiras, sendo encontrada no distrito do Poxim da Praia, onde apareceu após um naufrágio.

Há poucos anos, outro santo também se rebelou em Canavieiras. Foi o poderoso e reverenciado São Sebastião, que teimou em não fazer subir seu mastro na festa da Capelinha, após mudanças e quebras de tradição. Se o costume persistir, será preciso uma força-tarefa para realizar a exorcização dessas pessoas que pretendem ser mais reais do que o rei. E viva São Boaventura.


sexta-feira, 8 de julho de 2022

Cronica de Walmir Rosário

GABRIEL NUNES, O COMANDANTE DO ITABUNA DE 1970

 Em pé: Gabriel Nunes (presidente), Ailton, Betinho, Americano, Caxinguelê, Chuvisco, Reizinho, Ivo Hoffmann (técnico), Zé Rodrigues (roupeiro) e Ramirez Silvane (representante em Salvador).

Agachados: Miltinho, Luizinho, Carlão, Ronaldo, Romualdo, Tombinho (massagista) e Antônio da Silva Júnior (gerente da Casa do Atleta). O mascote é o ex-jogador Gilberto (filho do lendário Santinho).


Por Walmir Rosário*

Em 1970, tudo indicava que o Itabuna Esporte Clube pretendia se tornar tema de peça teatral do jornalista e dramaturgo Nélson Rodrigues, com direito ao personagem Sobrenatural de Almeida mandando na trama. Pois é, disso não duvidem, jamais. Neste ano, o Azulão, o Meu Time de Fé, esteve no inferno, passou pelo purgatório, aterrissou no céu e novamente desceu ao fogo do inferno.

E não era pra menos, no início do ano era um time insolvente, falido, sem diretoria, largado ao Deus Dará, quando em fevereiro de 1970 o advogado Gabriel Nunes reúne uma diretoria para assumir o clube. Mesmo sem experiência alguma na administração de clubes de futebol, a diretoria arregaça as mangas e inicia um trabalho para tirar o Itabuna do enorme atoleiro que se encontrava.

O único saldo positivo eram 22 jogadores, na grande maioria amadores, e alguns profissionais remanescentes do time de craques que contratara. E assim começaram a disputar o Campeonato Baiano de 1970. O que a diretoria não contava era a concorrência da Copa do Mundo, na qual o Brasil se sagrou tricampeão no México, e o inverno rigoroso que afastavam a torcida dos estádios.

Neste ano, o certame baiano era visto pela Federação Bahiana de Futebol, além de Bahia e Vitória, apenas um compromisso de segundo plano, pois esses dois times pretendiam mesmo era jogar o Campeonato Brasileiro. Em Itabuna, os planos de Gabriel Nunes eram bem mais modestos, como recolocar o Itabuna no cenário futebolístico que pertencia. O grande entrave era a falta de dinheiro para honrar as dívidas e formar um bom time.

Grande parte dos atletas do Itabuna exercia outra profissão, como Carlão, taxista em Ilhéus; os goleiros Luiz Carlos, bancário; Galalau, segurança bancário; e por aí afora. Diante do caos reinante, o presidente Gabriel Nunes encontrava dificuldades em contratar ônibus para o transporte dos atletas e da torcida, além de honrar com o pagamento de salários e bichos nas vitórias.

A cada jogo era um sufoco e era preciso fazer campanhas para arrecadar dinheiro, junto à torcida. Como não haviam recursos para pagar os jogadores, a diretoria recorre à parceria. Os atletas abririam mão dos salários e bichos e receberiam 70% da renda que o Itabuna faria jus e os outros 30% ficariam para as despesas. Àquela época, o vencedor ficava com 60% e o perdedor com 40%, tiradas as outras despesas.

Imediatamente todos toparam. E o presidente Gabriel Nunes fez um alerta: Temos que ganhar os jogos para levarmos 60%, o que mexeu com o brio dos atletas. Logo no segundo jogo o Itabuna perde para o Galícia, no campo da Graça, por 1X0, gol de Élcio, ex-Itabuna. No próximo jogo, contra o Vitória, os guerreiros de Itabuna conseguiram virar o jogo e aplicar 2X1 no rubro-negro baiano, ganhando a confiança da fanática torcida.

Outra prova importante foi contra o timaço do Feira Tênis Clube. O jogo foi realizado em Itabuna debaixo de uma forte chuva. O zagueiro Americano, ao atrasar uma bola para o goleiro Betinho, ela para numa poça d’água e o Feira marca 1X0. No intervalo, Gabriel vai ao vestiário, conversa com os jogadores e Americano responde para que a diretoria ficasse tranquila pois ganhariam o jogo. Ao final 2X1, conforme prometido.

Outra partida hercúlea foi contra o Jequié, outra sensação do interior. Só que o Itabuna não tinha dinheiro para contratar os ônibus e tampouco se hospedar num hotel. A proposta era viajarem no dia do jogo, em carros dos diretores, fazerem uma parada para o lanche na estrada, jogar a partida e fazer nova parada para outro lanche reforçado na volta, o que foi prontamente aceito por todos.

Só que a imprensa divulgou essa notícia, mexendo com os brios dos torcedores, que de logo se movimentaram com as famosas vaquinhas. Um torcedor itabunense que morava em Jequié reuniu outros conterrâneos e pagaram o hotel; os de Itabuna pagaram as despesas com as refeições e Frederico Midlej conseguiu os ônibus para o transporte. E o resultado do jogo foi 1X1.

Mais pra frente o Itabuna empata com o Bahia no campo da Graça. E esta viagem foi mais uma epopeia, com a entrada de Gabriel em “campo”, para fazer uma campanha na Rádio Difusora e conseguir as 28 passagens de avião, junto a José Laurindo, representante da Aviação Sadia. O sucesso foi tão grande que foram doadas 30 passagens. E, novamente Frederico Midlej consegue mais dois ônibus para a torcida e a charanga.

Das 16 partidas do segundo turno o Itabuna vence 13 e se torna o time a ser batido pelo Bahia e Vitória. Faltava apenas um jogo para o Itabuna Esporte Clube ganhar o segundo turno e se tornar um dos finalistas para disputar o título com o Bahia. Em 13 de setembro de 1970, o Itabuna enfrenta o Ideal de Santo Amaro, bastando um empate para se tornar campeão do segundo turno. E assim foi feito.

No dia seguinte, o presidente Gabriel Nunes liga para o interventor da Federação Bahiana, Cícero Bahia Dantas (do departamento jurídico do Bahia) para marcar a data dos jogos, que seriam disputados numa melhor de três (um jogo em cada sede e outro em campo neutro). Sem mais delongas, o interventor pede que Gabriel ligue na próxima semana, pois existia um recurso impetrado pelo Bahia.

Sentindo o “cheiro” de maracutaia, Gabriel Nunes se dirige a Salvador com Gérson Souza e descobre o plano de colocar o Itabuna na “geladeira” por vários meses, enquanto o Bahia disputaria o Brasileirão. E assim foi feito, jogaram no lixo o regulamento do campeonato e o Itabuna amargou mais uma derrota no tapetão baiano, prejudicando uma equipe módica e vencedora.

De início, a diretoria imaginou dar o troco, convidando o Fluminense de Feira, último campeão, para jogar em Itabuna e colocar as faixas no verdadeiro campeão, o que não foi aceito pela Assembleia Geral. Vencido o mandato, a diretoria liderada por Gabriel Nunes entrega o Itabuna Esporte Clube saneado, já vice-campeão, enquanto a nova diretoria teria o compromisso de jogar as partidas finais três meses depois.

O Itabuna vencedor foi desfeito e tomou duas goleadas. Na primeira, 3X0, no dia 13 de dezembro, e a segunda, por 6X0, em 16 de dezembro. Era assim o futebol baiano. 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

 

CARNAVAIS E PERIPÉRCIAS DE TYRONE PERRUCHO

Tyrone Perrucho e sua fixação pelas igrejas

Por Walmir Rosário*

Calma, eu explico: Nem morreu nem morrerá tão cedo, pois ouvir dizer que está imortalizado no álcool. Também não confundam o título acima com uma matéria que ele mesmo escreveu – há anos no saudoso Tabu –, descrevendo sua morte. Não, o cabra – Tyrone Perrucho – está e continuará “vivinho da silva” por muitos e muitos anos, pelo menos em nossa memória. O problema é outro e muito sério, como passarei a descrever.

É que anos passados o jornalista desocupado Tyrone Perrucho deixou sorrateiramente Canavieiras por duas vezes em direção a Barra Grande, município de Maraú, uma delas na companhia de Alberto Fiscal, lá conhecido como Alberto Coletor. Nesta primeira viagem, de cunho eminentemente turístico, se divertiu a valer e até provou da cerveja Heineken pelo alvissareiro preço de R$ 10,00.

Já na segunda turnê, saiu à francesa, sem se despedir ou dar um simples até logo a nenhum dos amigos, criou uma comoção nos diversos estabelecimentos do ramo etílico devido ao seu sumiço. Num belo dia, quando ainda estagiava nas artes do Whatsapp, disparou dezenas de postagens em que registravam visitas suas às igrejas chamadas popularmente de evangélicas.

Se por um lado despreocupou os confrades d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas, deixou as cabeças de outros totalmente baratinadas, dado a esse interesse mais que repentino em frequentar as chamadas “Casas de Deus”. Assim que chegou à Confraria d’O Berimbau no sábado seguinte, o confrade Raimundo Tedesco decifrou o enigma, informando ser uma ideia fixa dele, ainda dos tempos de rapazote.

E discorreu sobre sua primeira incursão numa igreja evangélica, prontificando-se a congregar com os irmãos, chegando a receber o sacramento do batismo em um sábado solene. Toda essa religiosidade – segundo o amigo Tedesco – estaria fundamentada no interesse numa das irmãs em Cristo, a quem prometera casamento, desde que a conhecesse mais intimamente, proposta tida como indecorosa pela quase futura noiva.

O “Batizado do Irmão Tyrone” deu o que falar naquela Canavieiras de ontem e rendeu uma poesia, distribuída fartamente (e ainda guardadas até hoje) em todos os recantos da cidade, com a foto do inusitado acontecimento. Desfeita a quase união, Tyrone Perrucho não deixou o hábito – há quem diga que é tara – de se bandear para igrejas, com segundas intenções.

Alguns dos seus amigos sempre disseram que esse comportamento não era normal, haja vista que volta e meia arrumava uns arranca-rabo com os padres, o que lhe rendeu uma promessa de excomunhão. Para uns confessava ser ateu, aquele coitado que não crê em Deus ou outro ser superior; para outros seria apenas um agnóstico, daqueles que não dizem que sim nem que não, muito menos pelo contrário.

Entretanto, as fotos chamavam a atenção, pois as igrejas estavam todas fechadas, no que mais uma vez Tedesco revelou a questão: “É que um sujeito pernicioso daquele chama a atenção e os pastores mandam fechar as portas com medo que venha junto o satanás”. Mas a pergunta que não quis calar foi: O que Tyrone Perrucho queria nessas igrejas, de forma tão insistente?

O tempo passou mas a questão ficou no ar até que mais algum tempo, confabulavam Tyrone e Alberto sobre a possibilidade de um retorno a Barra Grande logo após a folia momesca. Flagrados por Panela de Barro, a conversa se encaminhava sobre a possibilidade de abrir uma franquia de uma dessas igrejas em Canavieiras, e que funcionaria justamente ao lado do bar Mac Vita.

Pelo que Panela de Barro ouviu – e contou aos confrades –, o local escolhido já se encontrava pronto para funcionamento de uma dessas igrejas, faltando apenas o investimento no mobiliário e num grande e chamativo letreiro em frente e o serviço de som. De mais, bastaria formar alguns obreiros para atrair os fiéis, ao encarnarem as figurações de fé e recolher os óbolos pelas curas e milagres.

Não sei se Tyrone Perrucho sabe o motivo do fechamento da igreja no local em que ele pretende abrir o seu estabelecimento religioso. Caso não saiba e nem lembre, conto aqui: Numa dessas noites chuvosas a Coelba se esmerava em transformar as luzes da cidade em pisca-pisca, deixando às escuras os clientes do Mac Vita e da igreja ao lado, numa tentativa de fazer com que todos retornassem as suas casas.

Foi aí que então o pastor desceu do seu púlpito e se dirigiu ao bar Mac Vita para o espanto da seleta freguesia que, entre uma cerveja e outra, acompanhava as promessas de milagres. Educado, saudou a todos com um empolgante boa noite e perguntou se alguém da seleta clientela dispunha de um isqueiro ou fósforo para que ele pudesse acender as velas e continuar operando os milagres em seu culto.

Sem pestanejar, um dos clientes, Batista Gama Neves, emendou de primeira:

– Por que mesmo o senhor quer isqueiro ou fósforo?

No que o pastor respondeu:

– Para acender as velas e continuar o culto.

Foi aí então que Batista não deixou por menos:

– Pastor, nós estamos aqui ouvindo o senhor operando milagres, fazendo aleijado andar, surdo ouvir e expulsar satanás. Com todo esse poder o senhor não sabe fazer um milagre mixuruco de acender uma vela? Pode ir embora, aqui não tem não –.

Para surpresa dos clientes do Mac Vita, no raiar do dia seguinte parou um caminhão em frente a igreja, retirou todo o mobiliário, encerrando os cultos até hoje.

E apenas contei essa história com a finalidade de alertar o quase-pastor Tyrone Perrucho de que Batista continua sendo um dos clientes mais assíduos do Mac Vita, e para que ele não se poupe na sua vida mundana, brinque outros carnavais e não corra esse tipo de risco. Igreja ao lado de bar é concorrência desleal e sempre poderá passar por sérios dissabores e insolúveis problemas.


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