segunda-feira, 28 de novembro de 2011


A marcha da pamonha

Parece piada: mesmo que muito tardio, devemos traduzir e celebrar como relevante para o avanço de nossas liberdades democráticas o fato de o STF haver enfim entendido que qualquer cidadão pode discutir, questionar e até marchar contra uma lei, mesmo que seja a lei que criminaliza as drogas.
Puxa, que avanço, agora todo e qualquer brasileiro pode dizer claramente que é a favor de regras diferentes das vigentes e que quer debater o tema. E imaginar que o Supremo Tribunal teve que decidir sobre isso.
É muita liberdade: agora, se mais de uma pessoa achar que a lei em vigor é uma droga, pode sentir-se livre para mobilizar a marcha no quintal de casa, na vila, no bairro ou na Esplanada dos Ministérios - afinal não é somente a Praça Castro Alves que é do povo.
Uma vez entendido que sugerir um debate não significa fazer apologia do que está proibido usar, e que, portanto, passa a ser aceitável falar publicamente em ser “favorável à legalização da maconha (e outras)”, ficou apenas um lado ruim da decisão do STF: foi por água abaixo a articulação que já se ensaiava para invadir Brasília com a irônica “Marcha da Pamonha”. Perdemos esta, ia ser palha de milho pra todo lado!
Enfim livre, daqui pra frente quem prefere a pamonha proibida à devassa liberada... veja, insisto, como aumentou a liberdade: o usuário continua comendo escondido a pamonha dele, mas já pode sair por aí dizendo que é contra a proibição. Não é que isso já dá um certo “barato democrático”?
Com o STF assim “ligadão nas liberdades” e com o ex-presidente THC (digo, FHC) em boa campanha por um novo marco legal e uma nova compreensão para o complexo tema do uso e mercado de drogas, quem sabe a gente comece a tomar o rumo de uma legislação que avançando na regulação também da produção e da venda de (certos) produtos combata numa só tacada: a ilegalidade do uso de drogas; o risco do uso de substâncias que jogadas à ilegalidade (e por isso não fiscalizadas) são misturadas sabe-se lá Deus com que; os imundos laboratórios clandestinos; e, o tráfico milionário, selvagem.
O mundo não é plano, nem mesmo chato. Na verdade, o mundo é careta. Como é que um país de cultura tão tropicália e novelas tão eróticas ainda se mantinha confinado ao tabu que sequer era o da criminalização do uso da maconha e outras drogas (a debater, claro), mas ao tabu da mera manifestação livre e pública sobre o tema!
Bom, celebremos o avanço... como diz um amigo meu, goiano, pamonheiro convicto e militante impaciente: antes à tarde do que nunca!

 
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Geraldinho Vieira (texto) e Claudius (charge) são jornalistas

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