CONTAM POR AÍ…
Corria aí o fim dos anos de chumbo com a volta do Brasil ao estado democrático de direito, quando os movimentos sociais começaram a ser organizados na Ceplac. Inevitavelmente, chegaram as greves, diante da falta de sensibilidade (falta de costume) da direção de empresas públicas (até privadas) em ouvir e negociar as reivindicações dos trabalhadores. Era a queda-de-braço entre as duas partes: patrões e empregados, os primeiros acreditando que a força ainda imperava, enquanto os segundo tinham convicção de que era chegado o momento de testar as afirmações do presidente general Figueiredo de que o país caminhava para uma democracia, “nem que fosse na marra”. Quem sabe faz a hora não espera acontecer, exatamente como na música de Geraldo Vandré.
Saem os militares, entram os civis, capitaneado por José Sarney – instrumento dos militares, que soube “pongar” na redemocratização do país com a campanha Diretas Já! – após a morte de Tancredo Neves. Junto com ele, sobem pela rampa do Palácio do Planalto os militantes do PMDB, responsáveis pela luta contra a ditadura, apesar de um tanto desfigurado com o acréscimo da “letra P” ao velho MDB cansado de guerra.
Em Ilhéus, um dos próceres do partido, o médico e deputado Jorge Viana reivindica a indicação da direção da Ceplac prometendo “virar a instituição de cabeça pra baixo” e impor novos ritmos. Para tanto, nomeia o advogado Josuelito Brito secretário-geral e busca ex-funcionários do órgão considerados injustiçados para imprimir o novo projeto. Entre eles, eis que chega o engenheiro agrônomo Ubaldino Dantas, ex-chefe do Departamento de Extensão (Depex), para dirigir a Coordenadoria-regional para a Bahia e Espírito Santo.
Homem afeito ao diálogo e costumeiro cumpridor da palavra empenhada, Ubaldino Dantas prevê a mudança de costumes na relação trabalhista e atende às reivindicações dos funcionários cedendo o ginásio de esportes da Ceplac para a realização da primeira assembleia. Lá na presença de mais de mil ceplaqueanos vindos de escritórios locais e estações experimentais da região, celebram a volta da democracia e fundam o Conselho das Entidades Representativas dos Funcionários da Cepalc, formada pela Associação dos Funcionários da Ceplac (AFC), Sociedade dos Engenheiros Agrônomos do Cacau (Seac) e Sociedade dos Técnicos Agrícolas do Cacau (Stac).
E o coordenador-regional Ubaldino Dantas era uma das pessoas mais aguardadas na assembleia, que demorava a começar e causava ansiedade nos presentes, dada a importância histórica do ato. Lá pras tantas, quase no fim da tarde, eis que chega Ubaldino, faz discurso pró-funcionários e deixa o encontro. Dava para notar a apreensão dos ocupantes de cargos de confiança, que após a saída de Ubaldino resolveram voltar ao prédio da coordenadoria.
Lá tomaram conhecimento da realidade e dos fatos ocorridos antes da assembleia. Pressionado pelo secretário-geral Josuelito Brito a não permitir a realização da assembleia dentro da área e no horário do expediente, Ubaldino Dantas não cedeu e garantiu a palavra empenhada, mesmo pagando um alto preço: a exoneração do cargo de coordenador e do quadro técnico da Ceplac, que tinha ocupado muito recentemente.
Ao invés de aceitar as pressões, Ubaldino preferiu a demissão por telefone e foi assistir a assembleia história da redemocratização da Ceplac. Um sujeito de fibra, sem sombra de dúvida. www.ciadanoticia.com.br