alhos & bugalhos*
Adervan lutou pela transformação da Fespi em
Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) se empenhou na criação da
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Mas nada disso se compara como o
carinho com que recebia jovens estudantes que frequentemente visitavam o Agora.
Em 3 de março próximo José Adervan completaria 75
anos de existência, 66 deles vividos em Itabuna – sem levar em conta o período
que passou em Salvador e Alagoinhas. A intenção dos amigos e família era elaborar
uma edição especial do Jornal Agora para homenageá-lo, mas como ainda
não conseguiram tornar a vida perene, nos deixou antes disso.
Lutou contra a enfermidade até não poder mais. E
não poderia ser diferente para quem passou toda a vida superando obstáculos,
sempre com a naturalidade que lhe era peculiar. Se as coisas estavam difíceis,
aí era que ele apostava num salto mais alto. Contava que aprendeu isso com sua
mãe, obstinada, como toda sergipana, em tornar vencer as dificuldades.
E Adervan, o mais baiano – grapiúna – dos
sergipanos, costumava lembrar do dia em que chegou a Itabuna, numa data
qualquer de 1951, em cima de um “pau-de-arara”, fugindo da terrível seca. Aos
nove anos, o menino se deslumbrou quando o caminhão parou no terreno baldio onde
hoje é o Fórum Ruy Barbosa, e resolveu fazer um reconhecimento daquela que
seria a cidade do seu coração.
Mais do que sergipano de Boquim, passou a ser
itabunense e cidadão da região cacaueira, título dado e passado pela população
do Sul da Bahia, como reconhecimento dos seus feitos. Era um obstinado pelo
desenvolvimento regional e travou uma luta constante na defesa da nossa
economia, pelo cumprimento das promessas dos políticos, e pela garantia básica
de direitos assegurados em nossa Constituição, como educação, saúde e
cidadania.
É bom que se diga que esse estofo não nasceu do Jornal
Agora, bastião da defesa regional, criado por Adervan e Ramiro Aquino, uma
instituição que teima em desafiar a história, sobrevivendo por longos 35 anos.
Não pensem que foi o Jornal Agora quem fez Adervan. Foi exatamente o
contrário e desde os tempos de Alagoinhas que ele já se dedicava à imprensa,
editando uma revista.
Dos tempos menino, quando começou a respirar o
cheiro das tintas nas gráficas, ainda com tipos frios, passou pelo chumbo
quente dos linotipos até as impressoras planas e a composição digital. Durante
esse período, dividiu seu tempo com a política, a começar pela estudantil,
elegendo-se presidente da então toda poderosa União dos Estudantes
Secundaristas de Itabuna (Uesi).
Por ocasião da eleição para o Governo do Estado da
Bahia, encampou a luta em defesa da construção do novo Colégio Estadual de
Itabuna exigindo o compromisso dos dois candidatos – Waldir Pires e Lomanto
Júnior. Eleito, Lomanto manteve o compromisso e construiu um novo prédio no
bairro São Caetano.
Defensor intransigente da educação como
indispensável para a formação do homem, Adervan, já economista diplomado pela
Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, prestou sua colaboração à
educação superior, como professor da instituição. Mais acreditava que poderia
contribuir ainda mais e se tornou um baluarte pela sua estadualização.
Assim como lutou pela transformação da Fespi em
Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) se empenhou na criação da
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Mas nada disso se compara como o
carinho com que recebia jovens estudantes que frequentemente visitavam o Agora.
Sua paixão era tanta que ao criar o suplemento Agora Teen, elaborado com a
participação dos alunos das escolas, acreditava que fosse um veículo especial
para a formação de novos leitores.
Uma das suas criações e que se transformou em seu
“xodó”, o Agora, mais do que um jornal se transformou numa escola. Pela
redação que tive o prazer de participar algumas vezes, convivíamos com o que
tinha de melhor no jornalismo. Numa só redação, nomes como Antônio Lopes, Joel
Filho, Kleber Torres Vera Rabelo, Ricardo Ribeiro, Jorge Araújo, Ricardino
Batista, Juarez Vicente, Gonzalez Pereira, Eduardo Lawinsky, Kaline Ribeiro,
Paulo Fumaça, Walter Júnior, Arnold Coelho, Waldyr Gomes, dentre muitos outros,
circulavam com desenvoltura.
Junto com Ramiro Aquino já inovava ao criar a
Plopan, que revolucionou o setor de eventos e grandes promoções no sul da
Bahia, atuando nas áreas de entretenimento, com grandes atrações. No esporte
brilhou ainda mais, ao lançar os títulos patrimoniais do Itabuna Esporte Clube (Meu
time de fé), promovendo grandes jogos com as grande equipes do Brasil.
Bom garfo e bom copo, dispensava um convite de que
festividade fosse, ou abandonava-a, quando chegava a hora de assistir pela TV
aos jogos do seu time querido: o Flamengo. Apesar do DNA festeiro, duas festas
lhe eram sagradas: o Natal, em que fazia questão da família e amigos juntos em
casa, e o Carnaval, que desfilava ao modo antigo com sua cartola.
Citar as qualidades de Adervan é chover no molhado.
Afinal, o homem é medido pelos seus feitos e necessário seria um extenso e
enfadonho relatório nominando sua participação. A sua participação na sociedade
está escrita nas entidades em que serviu, como a Maçonaria, AABB, CDL,
Associação Comercial, e as que participava com apoio e entusiasmo.
No Sul da Bahia, em qualquer das cidades, sempre
haverá alguém com uma história de Adervan na ponta da língua para contar. Assim
como lutou pelas causas da sociedade, lutou bravamente contra uma enfermidade,
se recusando a abandonar sua trincheira. Como bom anfitrião, recebia os amigos
e gostava-os de vê-los à sua volta até o último instante.
E assim se despediu: no dia de jogo do Flamengo
contra o Botafogo (perdôo-o pela vitória) e de Carnaval. Com as bençãos de
Deus!
Walmir Rosário é
jornalista e um grande amigo.
Por hoje é só... Vou guardar a linha, a agulha e o dedal. Vou bater
o martelo: Ponto Final. Publicação
simultâneas: correioitajuipense.blogspot.com – academialalcooldeitajuipe.blogspot.com
e correioitajuipensedenoticias.blogspot.com
*Redação o Bolso do Alfaiate
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