UM CHOQUE DE AUTOESTIMA
Daniel Thame
Era a Capital do Cacau, como diziam seus moradores, rumo a seu futuro dourado.
A vassoura-de-bruxa, em duas décadas, interrompeu a marcha e reduziu o crescimento da cidade. Ainda assim, fruto do espírito empreendedor de sua gente, uma característica marcante, Itabuna ampliou o setor de serviços e viu nascer polos de ensino superior e de saúde privada.
A crise, entretanto, revelou aquilo que os momentos de fartura mascaravam: os imensos problemas estruturais de uma cidade sem planejamento, que cresceu de forma desordenada e que não consegue atender demandas básicas de seus moradores, como saúde pública, educação, saneamento e inclusão social.
O preço de ser a “Capital do Cacau” (agora, entre aspas) foi altíssimo: milhares de pessoas, despejadas das propriedades rurais por conta da crise do cacau, migraram para Itabuna, formando grandes bolsões de miséria na periferia, gente quase sempre sem qualificação profissional e, por conta dessa mesma crise, sem mercado de trabalho.
Quem visita Vitória da Conquista, Teixeira de Freitas e Santo Antonio de Jesus, encontra cidades que tem problemas sim, mas respiram desenvolvimento.
Parece simplório, mas o itabunense ao entrar nessas cidades, com acessos bem cuidados, ruas e avenidas limpas e prédios comerciais bem conservados, não consegue deixar de traçar um paralelo com Itabuna e seus acessos, seja os da BR-101, seja os da BR-415 tomados pelo mato e pela sujeira, com as ruas esburacadas logo nas entradas da cidade.
Para quem aprendeu a amar essa cidade, caso deste escriba, é de se lamentar ver Itabuna ficando para trás, como se alguma bruxa amarrasse os ponteiros do relógio do tempo e do progresso.
Lamentações? Bruxarias?
Nada disso! O que Itabuna precisa mesmo é de um choque de autoestima, daqueles que envolvem o poder público e a sociedade organizada.
Que os governantes efetivamente governem, que nossas entidades representativas deixem de ser apenas bajuladoras do governante de plantão e que os itabunenses rompam esse comodismo que está fazendo a cidade perder espaço para outros municípios.
Sejamos condutores do destino da nossa cidade e não apenas passageiros de um bonde sem freio e, nessa longa estrada da vida, sem motorista.
Daniel Thame é jornalista, escritor e mantém o Blog do Thame.
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