POLÍTICA
Esvaziado e insatisfeito, Jobim ‘morreu pela boca’
Maria Lima e Gerson Camarotti, O Globo
Gaúcho vaidoso de temperamento difícil como a presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim tinha tudo para ficar até a primeira reforma ministerial, prevista para abril de 2012: tinha boa aceitação na tropa e vinha comandando bem as articulações para aprovação, no Congresso, da criação da Comissão da Verdade, além de ter, na coluna de créditos, o bom desempenho na administração do caos aéreo, em 2007.
Mas, como resumiu ontem uma fonte do Planalto, "tem um ego do tamanho do seu corpo e morreu pela boca".
Na formação do governo, em dezembro, o ex-presidente Lula defendeu sua permanência à frente da Defesa. Por não ter outro nome para a pasta, Dilma acabou aceitando. Mas os dois nunca conseguiram estabelecer convivência cordial e sincera. Apesar de saber que ele votara em José Serra em 2010, nunca digeriu muito bem essa opção.
Por isso mesmo, o tratamento com Jobim sempre foi frio e distante. Uma forma de ele tentar se aproximar de Dilma foi a nomeação do ex-deputado José Genoino para assessoria da Defesa.
— Ele poderia até continuar na reforma prevista se não tivesse criado atrito e se conseguisse aprovar a Comissão da Verdade. Mas sempre foi um elefante em loja de louças. Na sucessão do PMDB, Lula tentou fazê-lo presidente do partido no lugar de Michel Temer, mas provocou tanta confusão que não deu — relembra o interlocutor do Planalto.
Nelson Jobim chegou ao governo Lula no auge da crise aérea, em julho de 2007, após o acidente da TAM em Congonhas. Comandou a faxina na Infraero, prometendo acabar com as filas e problemas nos aeroportos. Nessa época, passou a ser um dos principais articuladores de crise do governo Lula, e era interlocutor frequente do então presidente.
Jobim ficou mal acostumado e, na gestão Dilma, considerou muito pequeno o espaço destinado a ele pela nova comandante-em-chefe das Forças Armadas. Deixou de ser o prestigiado ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e querido de Lula. Segundo seus companheiros no PMDB, Jobim nunca se conformou e reclamava que o espaço que tinha no governo Dilma era muito pequeno para ele.
(...) Mas era nas reuniões fechadas que Jobim destilava o rancor. Ele nega, como tem negado todas as últimas declarações. Mas companheiros peemedebistas contam que, nessas reuniões, Jobim chama Dilma de "lobisomem": exerce um cargo, mas só aparece quando quer e para quem quer. Ele também negou.
Em sua passagem pelo STF, Jobim também enfrentou problemas com os colegas pelo estilo ácido. Num momento de constrangimento, quando o ministro Carlos Ayres Britto estreou no tribunal, Jobim implicava com o novato pela sensibilidade de poeta exibida nas sessões. Numa dessas ocasiões, Ayres Britto citou Camões em um julgamento e Jobim ficou irritado.
— Até onde sei, Camões não era jurista! — repreendeu.
— Mas era sábio! — devolveu Ayres Britto.
— Até onde sei, Camões não era jurista! — repreendeu.
— Mas era sábio! — devolveu Ayres Britto.
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