A
Poesia de ...
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !
Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !
E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."
Livro de Soror de Saudade
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !
Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !
E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."
Livro de Soror de Saudade
Biografia:
Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa
(Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da
Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com
apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na
certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi
todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal
como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma
maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19
anos após a morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora,
e por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou.
Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu
casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do
Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital,
contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que
então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o
Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito,
publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de
Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar,
no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu
pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923,
publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira
vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos.
Os casamentos falhados, assim como as desilusões
amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava
ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava
sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em
Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem
psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa
da morte, oficialmente, um «edema pulmonar».
Postumamente foram publicadas as obras Charneca em
Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília
(1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por
Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um
Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos
Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria
publicado em 1982.
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