quinta-feira, 29 de março de 2012


A situação atual do esporte de Itajuípe é culpa da nossa inércia!

Por Fabrício Matos (Bibito)
O processo de construção dos equipamentos urbano-arquitetônicos do município de Itajuípe sempre foi marcado pela participação popular. Muitos dos serviços que a cidade dispõe, só existem, ou, “funcionavam”, porque a população participou ativamente desta empreitada, em uma espécie de parceria – informalmente formal – entre os governados e os governantes. Realidades como: a igreja matriz Sagrado Coração de Jesus; o Colégio Diógenes Vinhaes; a Escola de Comércio; o Hospital Dr. Montival Lucas, dentre outros, atestam essa afirmação.

E com o esporte não foi diferente!

A título de curiosidade, desde o início do povoamento e da formação dos primeiros arruados, do antigo Sequeiro do Espinho – Pirangy, os moradores daquela época já se socializavam, divertiam e confraternizavam através da prática de um esporte muito conhecido de todos, o futebol.  Organizavam até excursões regionais para disputar partidas amistosas contra outras equipes de futebol.  É, acreditem, em 1913, antes mesmo da realização da primeira Copa do Mundo de Futebol que ocorreu em 1930, Itajuípe (Sequeiro do Espinho – Pirangy) já tinha uma equipe de futebol chamada de “Sport Club Aliança” (Jornal de Ilheos Set/1913).  Com isso se pode deduzir que estas pessoas jogavam seu futebol em algum lugar, este lugar de localidade não identificada, na verdade o primeiro equipamento esportivo de Itajuípe, construído pelo povo, um campo de futebol.
Com o passar dos anos foi sendo introduzida no currículo escolar a prática da educação física o que trouxe novas modalidades esportivas ao cotidiano da população de Itajuípe, como o vôlei, futsal, handebol, atletismo, alongamento, dentre outros, e com a chegada de novas modalidades cresceu também a demanda por novos equipamentos esportivos no município. Estas novas formas de praticar esporte alteraram o cotidiano dos jovens naquele período o que reflete no dias atuais. Porém, o reflexo, hoje em dia, resumiu-se em lembranças de um passado esportivo que existia em Itajuípe, associados a décadas de esporádicos projetos esportivos de curta duração, pouco investimento no setor e isolamento de outras modalidades desportivas. E quem nunca ouviu ecoar pelas ruas da cidade a vergonhosa frase: “Itajuípe é a terra do já teve”.  É realmente uma frase vergonhosa, mas temos que admitir que com relação ao esporte local, ela tem um pouco de veracidade.

Itajuípe era uma cidade que tinha uma vida esportiva ativa dentro das suas possibilidades.

Tomamos como exemplo a quadra municipal situada a Rua Alcino Nascimento, pois com a construção deste centro poliesportivo, várias modalidades começaram a ser praticadas neste “saudoso” centro de lazer e consequentemente muitos eventos ocorreram neste local, e tais encontros esportivos faziam parte da rotina do povo desta cidade. Porém, pensem! O que leva a construção de uma quadra municipal?! Resposta: a necessidade de centro poliesportivo para melhor atender aos anseios de um público crescente de desportistas, os quais inconscientemente pressionaram o poder público para a realização desse sonho (a construção da Quadra Municipal). Será que o número de atletas itajuipenses reduziu? Com certeza não. Então por que estes permanecem praticamente em “estado vegetativo” assistindo tudo o que “não” está acontecendo, há mais de duas décadas com o esporte da cidade?!

O mundo esportivo de Itajuípe literalmente estagnou e em muitos casos regrediu.

Pois, tomando-se como base que Itajuípe possui uma população de estimada em 22 mil habitantes (segundo o censo – IBGE 2010) e seu núcleo urbano composto por aproximadamente 12 bairros: o centro; Santa Rita de Cássia; Alto da Liberdade – Galo Morto-; Santo Antônio; Santa Edvirgens; Rio Branco; Av. Itabuna; Beira Rio; Grande Pitangueira, este formado pela união dos bairros da Urbis, Rua Nova e Caixa D’água; Coração de Jesus, situado próximo ao colégio Polivalente e o Bairro Novo “Acácio Almeida”) e a relação existente entre as práticas e equipamentos esportivos que existem no município, mostram que pouco foi e está sendo feito há quase “duas” décadas nesta área. E o mais interessante! O povo assiste tudo de camarote.

Para que as coisas sejam mais bem esclarecidas é só fazer uma breve análise dos fatos.

Hoje, Itajuípe conta com os seguintes equipamentos desportivos: um Estádio de Futebol, 2 campos para futebol society, 3 campos de futebol, 7 quadras “poliesportivas” sem cobertura, um ginásio de esportes, 2 piscinas e a área  de entorno do lago. Destrinchando os dados, dos aproximadamente 17 equipamentos desportivos que a cidade possui (quadras poliesportivas; campos de futebol; centros de atletismo; parque aquáticos; centros esportivos diversos, artes marciais, canoagem, áreas para pratica de skats e patins etc.) apenas 4 foram construídos com recursos “exclusivos”  do poder público (municipal, estadual e ou federal), que são eles: Quadra Municipal de Itajuípe, construída na década de 60; as quadras e outros equipamentos existentes no complexo de lazer que fica localizado no entorno do Lago Humberto Badaró, construído no final da década de 80;  o Ginásio de Esporte, construído no final da década de 80 e a quadra “poliesportiva” situada no bairro Alto da Liberdade, construída sobre uma praça nos anos 10 deste século. Ou seja, contando desde a emancipação (1952) até os dias atuais, o poder público só construiu 4 equipamentos, o que corresponde a uma obra a cada 15 anos, ou quase 4 gestões administrativas de um município.  E com relação aos demais equipamentos, 13 restantes, 8 deles não estão abertos diretamente a população por pertencerem a particulares, escolas e clubes.
 É importante também esclarecer que o Estádio de Futebol não foi construído inteiramente com recursos do poder público, ele nem mesmo pertence ao município e sim a uma associação chamada Liga Itajuipense de Desportos Terrestres, logo não entra na estatística citada anteriormente. Por falar no Estádio de Futebol da cidade, que apesar de não pertencer “oficialmente” ao município, este é um patrimônio do povo de Itajuípe, e apesar de sua importância, este foi interditado por decisão do ministério público, respaldado por laudos emitidos pelo CREA e Corpo de Bombeiros, desde 2009, isso quer dizer que, há aproximadamente 4 anos não tem um jogo de futebol no estádio municipal. No entanto, por muita pressão da população e da câmara de vereadores, o poder executivo repassou 23.000,00 para ajudar nos custos de manutenção das arquibancadas do estádio, pois os recursos para a recuperação do gramado e do sistema de drenagem foram conseguidos através de doações da população de Itajuípe, aproximadamente 6 mil reis (mediante livro de Ouro). Sem contar que as arquibancadas do Estádio não contam mais com o sistema de cobertura protetora contra chuva e sol! Pois estas tiveram que ser retiradas, por medida de segurança, porque as mesmas estavam com suas estruturas de sustentação completamente enferrujadas e a “Liga Itajuipense de Desportos Terrestres” não teve recursos para dar manutenção devida.
Outro ponto a ser ressaltado é com relação às quadras “poliesportivas”, é vergonhoso, pois das 8 quadras, incluindo a do ginásio de esporte, hoje em dia, apenas 4 estão literalmente abertas ao público e em péssimas condições, sem marcações que caracterizam uma quadra poliesportiva e nem piso adequado para a prática desportiva, para ser mais especifico apenas no ginásio de esportes pode ser praticado outras modalidades a não ser futsal e “baleado”. Vergonhoso, também, é saber que a quadra Municipal de Itajuípe, a quadra do Colégio Diogenes Vinhaes e a quadra da Escola de Comércio (esta nem existe mais), três símbolos da conquista de um povo estão em uma situação de completo abandono e não atendem mais as necessidades esportivas destes.
Agora é só imaginar, se a situação dos equipamentos desportivos de Itajuípe, na sua grande maioria, encontra-se jogados a própria sorte e expostas as intempéries do clima, a quase duas décadas, imaginem os projetos e programas voltados ao esportivos desta cidade como se encontram? Imaginem! É só imaginação.
 E mais, imagine um dos maiores bairros da cidade, a Pitangueira, que nunca foi contemplado pelo poder público com uma obra voltada para o esporte, apesar de situar-se relativamente distante desse poucos “centros desportivos”, esta localidade não possui nem uma quadra poliesportiva para atender a comunidade e a única estrutura existente é um campo de futebol construído e mantido pela comunidade.
Porém, pior que passar 15 anos para se construir uma quadra na cidade é deixar o que já foi construído ser sucateado; é o município não ter projetos continuados de incentivo ao esporte; é o município ter uma “Gerência de Esportes” que não tem autonomia por não possuir verbas próprias, pois em Itajuípe esta é apenas um apêndice da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Turismos (Secretaria 4 em 1); é ver pessoas que lutam pelo que resta do esporte no município não receberem o apoio que merecem e o pior acima de tudo, é ver que os munícipes, principalmente esportistas e simpatizantes, vem perdendo a força de continuar lutando contra esse anos de descaso com as políticas de esporte do município.
Uma das soluções para tentar melhorar a situação de estagnação em que se encontra o esporte do município de Itajuípe, é a união das classes dos desportistas e simpatizantes, com o objetivo de lutar pelos seus anseios, desejos e necessidades de lazer e recreação que as práticas desportivas proporcionam. O que deve ser planejado e implementado é a criação de uma associação ou associações voltadas aos interesses do esporte e lazer dos itajuipenses. Tais associações terão como objetivo primordial a de discutir e buscar soluções de curto, médio e em longo prazo, para programas e projetos viáveis e continuados, que visem a promover o desenvolvimento do esporte local, visando beneficiar um interesse comum, sendo não um instrumento do poder público, mas sim, um “centro” formador de opinião e que tenha participação ativa na elaboração das políticas esportivas do município. Por meio de associações pode-se ainda captar recursos tanto dos programas dos governos Estaduais, Federais e Municipal de incentivo ao esporte, como da iniciativa privada, tudo isso via elaboração de projetos. Um bom exemplo disso: São as atividades e projetos de cunho cultural e artístico que são desenvolvidos pelas associações como ABARÁ- Associação Brasileira de Apoio aos Recursos Ambientais; AFAI- Associação dos Filhos e Amigos de Itajuípe; a primeira, juntamente com a parceria do governo municipal, estadual e de outros entes, conseguiram a implementação do Memorial Adonias Filho, e a segunda, viabilizou a revitalização do antigo casarão que se encontra na Praça João Adry (antiga praça da feira) e a criação de um cinema, o Cine AFAE, e isto “sem participação” do poder público municipal, angariando recurso via projetos  e por meio de contribuições da comunidade.
Só através de movimento organizado é que o poder público irá definitivamente aprender a respeitar o esporte local, pois os programas voltados a esta área não podem simplesmente se resumir a planos de governos montados sem no mínimo ouvir as necessidades e anseios de que se beneficia com as práticas desportivas. O povo tem que se recusar a receber as “migalhas” que há anos são oferecidas pelo poder público, no que diz respeito ao esporte, e definitivamente exercer o seu direito de cidadania participando da construção das políticas desportivas da cidade (itajuipeonline)
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