Walmir Rosário*
Pois é, dizem que por falta do que fazer a mente humana acaba produzindo ações e resultados catastróficos. Há até quem diga que “mente de desocupado é morada do satanás” devido à fertilidade de pensamentos, muitos deles maléficos à sociedade.
O que faz um prefeito de uma grande cidade como Itabuna empreender uma guerra sem quartel contra um município vizinho para tomar dois palmos de terra? Para minha parca inteligência: falta do que fazer. Ou melhor, falta de do que apresentar sociedade o que prometeu na campanha.
Só pode se tratar de uma jogada de marketing, pensada, planejada, elaborada e executada para que a população esqueça seus problemas mais prementes, especialmente os serviços essenciais de competência do poder público. Mas não é só isso, tudo indica tratar-se de um amplo projeto engendrado para desviar a atenção da população.
Ao invés de permanecer na defesa, o Capitão Azevedo resolveu ir ao ataque, criando “factoides”, os conhecidos “pastéis de vento”, para enganar a opinião pública. Essa tática, aliás, é utilizada constantemente em Brasília, com um escândalo sucedendo outro em grande velocidade.
Nesse caso, o escândalo antigo é substituído pelo escândalo novo, com todo o planejamento. Rei morto, rei posto. E tudo se acomoda pelo fato dos veículos de comunicação formais e informais abandonarem, imediatamente, o fato anterior para divulgar o mais recente.
Nada de novo existe nessa desprezível prática difundida por Josef Goebbels, propagandista-mor do ditador nazista Adolf Hitler. É apenas uma questão de cópia das campanhas utilizadas na Alemanha até o final da segunda grande guerra. E os resultados são conhecidos de todos.
Por essa prática, difunde uma mentira à exaustão até que se transforme na mais pura e cristalina verdade. Basta uma simples análise para verificar a inconsistência dessas campanhas, desprovidas de cunho ideológico, mas de cultivo à personalidade do governante.
Em poucas palavras, o governante não é apresentado como um “servidor” da administração municipal, mas um “messias” que veio resolver todos os problemas do povo, um remédio para todos os males, a exemplo dos apregoados pelos chamados “raizeiros” nas praças e feiras livres das cidades do interior brasileiro.
Chama, sobretudo, a atenção, os desdobramentos dos limites dos territórios dos municípios de Itabuna e Ilhéus, que deixaram um pedaço da população do bairro Nova Califórnia, em Itabuna, de lado, esquecido, para caminhar para um bairro de Ilhéus, o Salobrinho, que poderia ser anexado a Itabuna.
Como simples refrescamento de memória, o Salobrinho é o local em que foi criado o Capitão Azevedo, cujas raízes familiares ainda estão encravadas. Durante a campanha eleitoral vencida por Azevedo, muitas denúncias foram apresentadas contra ele, a exemplo do aliciamento de eleitores, cujos domicílios eleitorais foram transferidos para Ilhéus.
É verdade que a Justiça Eleitoral não deve ter constatado, nem mesmo sei se investigou as denúncias feitas, mas elas existiram, inclusive com a comprovação de imagens de uso de ônibus e outros veículos transportando eleitores do Salobrinho para Itabuna.
Diante dessas evidências, não restam dúvidas de que o projeto dos limites territoriais tem duas vertentes: fazer com que a população de Itabuna esqueça o seus problemas, prestando um desserviço à educação e conscientização do povo; atrair para Itabuna um contingente ainda maior de eleitores – apesar de residirem no município de Ilhéus – para compensar a perda da sua popularidade no município em que é prefeito.
Simples e diabólico.
*Advogado, jornalista e editor do www.ciadanoticia.com.br