Walmir Rosário*
Enfim, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia iniciou o combate ao crime organizado de forma planejada, atitude louvável, mas ainda bem tímida, mas presente.
Sem alardes, com ações efetivas, as polícias Civil e Militar começam a demonstrar seus papéis institucionais, escamoteados ao longo dos anos por falta de compromisso do Estado.
Entretanto, não podemos nos entusiasmar demais, haja vista a mudança de atitude se restringir a apenas Salvador. Mas temos que reconhecer que o novo secretário é um profissional da área e começa a mostra serviço inteligente.
Essa atitude estatal nos deixa encabulado com a pouca (ou falta de importância) dada à vida pelas nossas autoridades. Historicamente, a vida, bem maior do homem foi relegada ao último plano como se nenhuma importância tivesse.
Por sua vez, a sociedade deveria ficar envergonhada com a complacência emprestada a tamanho absurdo, mas é a realidade, afinal, a violência somente passa a ser uma preocupação de cada um quando atinge a nossa individualidade ou de nossa família. Enfim, isso sempre foi coisa corriqueira no passado e fica a lição para a mudança no presente e no futuro.
A timidez desse programa implementado em Salvador é compreensível quando nos referimos a uma mudança de atitude, que requer planejamento e ajustes nas ações, corrigindo as deficiências e ampliando os acertos, o que é perfeitamente normal.
Entretanto, a preocupação a que me refiro é ao restante da população da Bahia, discriminada na prontidão do atendimento. Pode parecer o tratamento dado pelo Estado destinado a uma “casta privilegiada”: o cidadão soteropolitano, por extensão o metropolitano, mais próximo das autoridades do Estado.
Enquanto isso, o homem do interior continua a ser tratado como um cidadão de classe inferior, que recebe a (in)segurança oferecida pelo Estado nos moldes tradicionais. Melhor dizendo: sem o devido amparo dos órgãos de segurança conforme preceitua a Constituição.
Essa deficiência não é só privilegio da formação de qualidade inferior dada aos policiais, que não vêem o cidadão como um seu “cliente”, mas um causador de problemas, que tem que provar ser um homem de bem. Isso tudo causado pelo (des)preparo que recebeu do Estado.
Já os policiais da capital recebem hoje formação humanística suficiente para reconhecer no cidadão um ser merecedor de respeito em sua individualidade. O policial passa a ter uma mentalidade pacificadora, mesmo que para isso precise utilizar a força, quando inevitável.
Tal e qual aconteceu no Rio de Janeiro, a Polícia sobe os morros e outros locais de Salvador onde imperam a violência e o tráfico de drogas. Entram em contato com a população, ganham a confiança dos moradores, que passam a se sentir protegidos.
Nós do interior, que também pagamos impostos, queremos merecer do Estado o mesmo tratamento dos nossos irmãos da capital. Como sempre, continuaremos abominando a falta de compromisso do Estado para com as polícias, entregues à própria sorte, por não terem meios materiais para as ações.
A realidade nua crua no interior são as viaturas (mesmo novas) impedidas de se deslocarem sem combustível, número insuficiente de policiais, incursões aos locais violentos e posterior abandono da população, que fica exposta aos bandidos.
São oficiais, delegados, agentes e policiais militares que querem agir, sabem como agir, mas não encontram os meios. Em alguns casos, até que encontram o apoio de prefeituras e entidades da sociedade organizada dispostas a ceder combustível, dentre outros insumos inerentes à atividade policial.
Mas, convenhamos, é muito pouco para o valor de uma vida.
*Advogado, jornalista e editor do ciadanoticia.com.br